quarta-feira, 27 de março de 2024

Jesus tem muitos companheiros de mesa mas poucos de abstinência

Jesus tem muitos que amam o Seu reino, mas poucos que gostem de carregar a Sua cruz. Tem muitos que desejam consolação, mas poucos tribulação. Encontra bastantes companheiros de mesa, mas poucos de abstinência. Todos desejam alegrar-se com Ele, mas poucos querem suportar por Ele alguma coisa. Muitos seguem Jesus até à fracção do pão, mas poucos até ao beber do cálice da Paixão. 

Muitos veneram os seus milagres, mas poucos seguem a ignomínia da Cruz. Muitos amam a Jesus, enquanto as adversidades não os tocam. Muitos O louvam e bendizem enquanto dele recebem quaisquer consolações, mas se Jesus Se esconder e os abandonar um pouco, caem nos queixumes ou em grande abatimento. 

Aqueles, porém, que amam Jesus por Jesus, e não por si próprios, bendizem-No em toda a tribulação e angústia, tal como na maior consolação. E, ainda que Ele nunca lhes quisesse dar consolação, louvá-Lo-iam sempre e sempre Lhe quereriam dar graças. Oh, quanto pode o puro amor a Jesus, não misturado a nenhuma comodidade pessoal ou amor próprio! 

in Imitação de Cristo, Livro II, cap. 11


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terça-feira, 26 de março de 2024

Oração ao Santíssimo Crucifixo (de Roma)

No séc. XVI, enquanto uma praga dizimava Roma, foi organizada uma peregrinação pelas ruas da cidade com um Crucifixo considerado milagroso. Enquanto a procissão ia avançando, a praga ia regredindo. Esta é a oração que se reza ao Santíssimo Crucifixo:

Ó Jesus, que pelo Vosso amor ardente por nós quisestes ser crucificado e derramar o Vosso Sangue para redimir e salvar as nossas almas, vede-me aqui prostrado aos Vossos pés confiado na Vossa misericórdia.

Pelas Vossas dores e pelos méritos da Vossa Santa Cruz e morte, dignai-Vos conceder-me a graça que ardentemente Vos peço... (dizer a graça que se pede - pedir, neste momento, pelo fim da epidemia e pela nossa saúde da alma e do corpo).

E Vós, minha Mãe, Virgem das Dores, escutai a minha oração, intercedei por mim junto do Vosso divino Filho e pedi-Lhe que me conceda os favores e as graças que Lhe peço. Amém.

Pai Nosso, Avé Maria, Glória ao Pai

Jaculatória: «Misericórdia, Santíssimo Crucifixo».


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O que é a Contrição?

CONTRIÇÃO é o arrependimento e detestação do pecado cometido, com o propósito de não tornar a pecar. A contrição é um acto de vontade, uma impressão desagradável de ter ofendido a Deus. 

A contrição é perfeita quando a causa do arrependimento é ser o pecado uma ofensa a Deus, Bondade infinita, nosso Pai e Benfeitor, e nesse caso obtém o perdão dos pecados, mesmo sem a Confissão sacramental, se há impossibilidade de a fazer; é imperfeita quando a causa do arrependimento é o pecador merecer o castigo do inferno, ou a privação do Céu.

Para obter o perdão dos pecados na Confissão sacramental basta a contrição imperfeita, também chamada atrição. A contrição é de tal modo necessária para obter o perdão dos pecados que sem ela, diz Santo Tomás, nem mesmo o pecado venial pode ser perdoado. 

Que a contrição é necessária para obter o perdão ensina-o a Sagrada Escritura, dizendo: «Arrependei-vos e convertei-vos para que os vossos pecados sejam perdoados». (Act. Apost., III, 19).

Padre José Lourenço in Dicionário da Doutrina Católica


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segunda-feira, 25 de março de 2024

A Semana Santa explicada pelo Catecismo de São Pio X

47) Por que a última semana da Quaresma se chama Santa?
 
A última semana da Quaresma chama-se Santa porque nela se celebra a memória dos maiores mistérios que Jesus Cristo realizou para a nossa salvação. 

48) Que mistério se comemora no Domingo de Ramos? 
No Domingo de Ramos comemora-se a entrada triunfante de Jesus Cristo em Jerusalém seis dias antes da sua Paixão. 

49) Por que Jesus Cristo quis entrar triunfante em Jerusalém, antes de sua Paixão? 
Jesus Cristo, antes da sua Paixão, quis entrar triunfante em Jerusalém, como estava profetizado: 1º para encorajar os seus discípulos, dando-lhes com isso uma prova manifesta de que padeceria espontaneamente; 2º para ensinar-nos que com a sua morte triunfaria sobre o demónio, o mundo e a carne, e abrir-nos-ia a entrada do Céu. 

50) Que mistérios são celebrados na Quinta-feira Santa? 
Na Quinta-feira Santa celebram-se a instituição do Santíssimo Sacramento da Eucaristia e do Sacerdócio, recorda-se o lava-pés e o preceito do amor cristão. 

51) Que mistério se recorda na Sexta-feira Santa? 
Na Sexta-feira Santa recorda-se a paixão e morte do Salvador. 

52) Que mistérios se honram no Sábado Santo? 
No Sábado Santo honram-se a sepultura de Jesus Cristo e sua descida ao limbo. 

53) Que devemos fazer para passar a Semana Santa em conformidade com as intenções da Igreja? Para passar a Semana Santa em conformidade com as intenções da Igreja devemos fazer três coisas: 1º juntar ao jejum e abstinência maior recolhimento interior e maior fervor na oração; 2º meditar assiduamente e com espírito de compunção os padecimentos de Jesus Cristo; 3º assistir, se possível, aos divinos ofícios com este mesmo espírito. § 2 °- Sobre alguns ritos da Semana Santa 

54) Por que o domingo da Semana Santa se chama Domingo de Ramos? O domingo da Semana Santa chama-se Domingo de Ramos pela procissão que neste dia se celebra, ocasião em que os fiéis levam na mão um ramo de oliveira ou de palma. 55) Por que no Domingo de Ramos se faz a procissão levando ramos de oliveira ou de palma? Faz-se a procissão no Domingo de Ramos levando ramos de oliveira ou de palma para recordar a entrada triunfante de Jesus Cristo em Jerusalém, quando as turbas lhe saíram ao encontro com ramos de palmas nas mãos. 

56) Quando Jesus Cristo entrou triunfante em Jerusalém, quem foi ao seu encontro? Quando Jesus Cristo entrou triunfante em Jerusalém foram ao seu encontro o povo simples e as crianças, e não as pessoas importantes da cidade; dispondo assim Deus para dar-nos a entender que a soberba os fez indignos de tomar parte no triunfo de Nosso Senhor, que gosta da simplicidade do coração, da humildade e a inocência. 

57) Por que não se tocam os sinos desde a Quinta-feira Santa até a vigília pascal? Desde a Quinta-feira Santa até a vigília pascal não se tocam os sinos em sinal de grande tristeza pela paixão e morte de nosso Salvador. 58) Por que na Quinta-feira Santa guarda-se um cálice com hóstias consagradas? Na Quinta-feira Santa se guarda um cálice com hóstias consagradas: 1º para que se tributem adorações especiais ao Santíssimo Sacramento no dia em que foi instituído; 2º para que se possa comungar na Sexta-feira Santa em que o sacerdote não consagra. 

59) Por que os altares são desnudados depois da Missa na Quinta-feira Santa? Na Quinta-feira Santa, depois da Missa, os altares são desnudados a fim de representar-nos Jesus Cristo despojado de suas vestes para ser açoitado e posto na Cruz e ensinar-nos que para celebrar dignamente a Paixão devemos nos despojar do homem velho, que são todos os afetos mundanos. 

60) Por que se faz o lava-pés na Quinta-feira Santa? Na Quinta-feira Santa faz-se o lava-pés: 1º para renovar a memória daquela humilhação com que Jesus Cristo se rebaixou para lavar os pés de seus Apóstolos; 2º porque Ele mesmo exortou aos Apóstolos, e neles os fiéis, a imitar seu exemplo; 3º para ensinar-nos que devemos limpar nosso coração de toda mancha e exercitar uns com os outros os serviços da caridade e humildade cristã. 

61) Por que na Quinta e na Sexta-feira Santas os fiéis vão visitar o Santíssimo Sacramento em muitas igrejas, em procissão ou em particular? Na Quinta e na Sexta-feira Santa os fiéis vão visitar o Santíssimo Sacramento em muitas igrejas em memória das dores que sofreu Jesus Cristo em muitos lugares, como no Horto, nas casas de Caifás, Pilatos e Herodes e, sobretudo, no Calvário. 

62) Com que espírito devemos fazer as visitas ao Santíssimo Sacramento? As visitas ao Santíssimo Sacramento deverão ser feitas não por curiosidade, costume ou passatempo, mas com certa contrição de nossos pecados, que são a verdadeira causa da paixão e morte de nosso Salvador; e com verdadeiro espírito de compaixão por suas penas, mediante os diversos padecimentos que sofreu; por exemplo: na primeira visita, o que padeceu no Horto; na segunda, o que sofreu no pretório de Pilatos, e assim nas demais. 

63) Por que na Sexta-feira Santa, de um modo particular, a Igreja roga ao Senhor por toda sorte de pessoas, mesmo pelos pagãos e judeus? A Igreja, na Sexta-feira Santa, roga de um modo particular ao Senhor por toda sorte de pessoas para demonstrar que Jesus Cristo morreu por todos os homens, e para implorar em benefício de todos o fruto de sua Paixão. 

64) Por que na Sexta-feira Santa se adora solenemente a Cruz? Na Sexta-feira Santa adora-se solenemente a Cruz porque, tendo Jesus Cristo sido crucificado e morto neste dia, santificou- -a com seu sangue. 

65) Se a adoração se deve só a Deus, como se adora também a Cruz? A adoração deve-se só a Deus, e por isto, quando se adora a Cruz, nossa adoração se refere a Jesus Cristo, que nela morreu. 

66) Que considerar de um modo especial nos ritos do Sábado Santo à noite? Nos ritos do Sábado Santo à noite, chamados a vigília pascal, devemos considerar de um modo especial a bênção do círio pascal e da pia batismal. 

67) Que significa o círio pascal? O círio pascal representa o resplendor que Jesus Cristo trouxe ao mundo. 

68) Por que se benze a pia batismal na vigília pascal? Na vigília pascal se benze a pia batismal porque antigamente neste dia, como também na véspera de Pentecostes, administra-se solenemente o Batismo. 

69) Que devemos fazer enquanto se benze a pia baptismal? Enquanto se benze a pia batismal devemos dar graças ao Senhor por havermos admitido o Batismo, e renovar as promessas que então fizemos.


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Ofício de Trevas

O Ofício de Trevas é a oração das Matinas e Laudes dos três dias do Tríduo Pascal. Chama-se ‘Trevas’ porque se canta durante a noite (anterior) e também para simbolizar a angústia da Paixão de Nosso Senhor. É utilizado o candelabro de 15 velas, sendo apagadas uma a uma depois de cada salmo ter sido rezado, até a igreja ficar completamente às escuras. É uma das cerimónias mais bonitas da Semana Santa.


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domingo, 24 de março de 2024

Domingo de Ramos: Começa a semana mais importante para os Cristãos

O Domingo II da Paixão, mais conhecido por Domingo de Ramos, abre a Semana Santa e marca o início da etapa final da Quaresma. Neste dia, a Igreja celebra a entrada triunfal de Nosso Senhor Jesus Cristo em Jerusalém, cheio de glória e de humildade, pronto para cumprir o seu Mistério Pascal.

Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: "Ide à aldeia que aí está diante de vós e logo achareis presa uma jumenta e com ela um jumentinho. Desprendei-a e trazei-los. E, se alguém vos disser alguma coisa, respondei que o Senhor precisa deles". – Isto aconteceu para que se cumprisse a Profecia de Zacarias: "Dizei à filha de Sião: 'Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga.'" (Zc 9,9).

Indo os discípulos e tendo feito como Jesus lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho, e puseram em cima deles as suas vestes, e sobre elas Jesus montou. E o povo, tanto os que o precediam quanto os que o seguiam, o acolheram como Rei, agitando ramos de palmeira e clamando: "Hosana ao filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!". Com isso toda a cidade de Jerusalém se agitou, e perguntavam: "Quem é este?" E as multidões clamavam: "Este é o Profeta Jesus, de Nazaré da Galileia” (Mt 21,1-11).

A Procissão de Ramos

Vem de fora e tem como ponto de partida um lugar de reunião dos fiéis, fora da igreja. A proclamação do Evangelho conta a entrada de Jesus em Jerusalém, e assim se inicia a procissão até o interior do templo.

Nessa procissão, a Igreja não comemora apenas o santo evento do passado e celebra com louvor e acção de graças a realidade presente, mas também antecipa o seu glorioso cumprimento no fim dos tempos. Os ramos não devem ser postos no lixo depois da procissão, mas levados para casa e lá guardados com respeito, ou então queimados.

A cinzas, que são usadas na Quarta-Feira de Cinzas, são feitas com os ramos bentos deste dia, obedecendo a um costume que vem do século XII.


in 'O Fiel Católico'


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sexta-feira, 22 de março de 2024

Stabat Mater Dolorosa (latim e português)



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As Sete Dores de Nossa Senhora no início da Semana Santa

Esta Sexta-Feira antes da Semana Santa é tradicionalmente dedicada a Nossa Senhora das Dores, que, nos acontecimentos que se aproximam, viu cumprida a profecia de Simeão quando disse que uma espada trespassaria o seu coração. Esta meditação nas sete dores de Nossa Senhora é muito útil para rezar diariamente, especialmente nestes dias até à Páscoa.

Primeira Dor
Pela dor que sofrestes ao ouvir a profecia de Simeão, de que uma espada trespassaria o vosso Coração, Mãe de Deus, ouvi a nossa prece.
Ave Maria...

Segunda Dor
Pela dor que sofrestes quando fugistes para o Egipto, apertando ao peito virginal o Menino Jesus, para salvar das fúrias do ímpio Herodes, Virgem Imaculada, ouvi a nossa prece.
Avé Maria...

Terceira Dor
Pela dor que sofrestes quando da perda do Menino Jesus por três dias, Santíssima Senhora, ouvi a nossa prece.
Avé Maria...

Quarta Dor
Pela dor que sofrestes quando viste o querido Jesus com a Cruz ao ombro, a caminho do calvário, virgem Mãe das Dores, ouvi a nossa prece.
Avé Maria...

Quinta Dor
Pela dor que sofrestes quando assististes à morte de Jesus, crucificado entre dois ladrões, Mãe da Divina graça, ouvi a nossa prece.
Avé Maria...

Sexta Dor
Pela dor que sofrestes quando recebestes nos vossos braços o corpo inanimado de Jesus, descido da Cruz, Mãe dos Pecadores, ouvi a nossa prece.
Avé Maria...

Sétima Dor
Pela dor que sofrestes quando o Corpo de Jesus foi depositado no sepulcro, ficando vós, na mais triste solidão, Senhora de todos os povos, ouvi a nossa prece.
Avé Maria...


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quinta-feira, 21 de março de 2024

Os monges beneditinos de Núrcia

No Jubileu do ano 2000, os monges de Núrcia levaram uma vida nova para o local de nascimento de São Bento. Armados apenas com a sua fé e o seu zelo, fundaram uma comunidade monástica que vem atraindo os homens de todo o mundo a seguir antiga regra de São Bento. Este documentário foi produzido depois de muitos pedidos dos seus amigos para terem uma visão sobre o funcionamento interno da vida no mosteiro.



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7 conselhos de São Bento muito úteis para a nossa vida

Na sua Regra, São Bento dirige, aos seus monges, estas recomendações que também nos podem ajudar. 

É este zelo que, com ardentíssimo amor, devem exercitar os monges:

1. Antecipem-se uns aos outros na estima recíproca;

2. Suportem com muita paciência as vossas enfermidades, físicas ou morais;

3. Rivalizem em prestar mútua obediência;

4. Ninguém procure o que julga útil para si, mas antes o que o é para os outros;

5. Amem-se mutuamente com pura caridade fraterna;

6. Vivam sempre no temor e no amor de Deus;

7. Amem o vosso abade com sincera e humilde caridade; nada absolutamente anteponham a Cristo, o qual nos conduza todos juntos à vida eterna.


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quarta-feira, 20 de março de 2024

A Santa Missa é a renovação incruenta do Sacrifício da Cruz




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São Martinho de Dume (Braga)

Sabemos pelo próprio testemunho de Martinho (Epitáfio), confirmado por Venâncio Fortunato (Carminum libri, 5, 2) e Gregório de Tours (Historia Francorum, 5, 37), que era oriundo da Panónia (actual Hungria), ou descendente de panónios. Presume-se que seria de origem romana. Feitas as contas a partir de outras datas prováveis, chega-se à conclusão que o ano do seu nascimento se situa próximo de 520.

Como aconteceu com muitas outras personagens do seu tempo, foi seduzido pela necessidade interior de se familiarizar com os Lugares Santos, como afirmam Gregório de Tours (Historia Francorum, 5, 37) e Isidoro de Sevilha (De viris illustribus, 35, 45). A estadia no Oriente enriqueceu-o pela oportunidade de contacto com personagens cultas que demandavam estas paragens e pelo conhecimento da vida monástica ao estilo dos Padres do Deserto, muito desenvolvida. 

Foi também ocasião para crescer no conhecimento das Escrituras e, provavelmente, da língua grega e da cultura oriental, como testemunham os mesmos Venâncio Fortunato, Gregório de Tours e ainda Isidoro de Sevilha (Historia de Regibus Gothorum, Wandalorum et Suevorum, 91).

S. Martinho de Dume veio por mar e desembarcou num porto da Galécia, ao tempo que as relíquias do seu homónimo S. Martinho, ou em época próxima. São várias as conjecturas para a localização deste porto, mas nenhuma dispõe de suporte suficiente para se impor.

A data deste acontecimento, que marcará um rumo novo na vida das populações da Galécia, deve situar-se próxima do ano 550. Tudo leva a crer que Martinho já era monge e presbítero. O metropolita de Braga era então Lucrécio.

Entretanto, o rei Carrarico, em cumprimento da promessa que tinha feito para alcançar a cura do seu filho, construiu em Dume, nos arredores de Braga, uma igreja em honra de S. Martinho de Tours e abandonou o arianismo.

Martinho, por sua vez, contando com o patrocínio do rei, edificou junto à igreja um mosteiro, de que foi o primeiro abade. Este mosteiro acabará por se converter num importante centro de formação e difusão de vida cristã e de cultura.

Por razões expressas que se desconhecem, mas que se prendem certamente com a sua invulgar estatura de homem culto e cristão convicto, com a sua proximidade à corte e com o determinante papel desempenhado na conversão dos suevos, foi criada para ele a diocese de Dume, mantendo a sua condição de abade. De acordo com o Breviário de Soeiro (Lectio IX), a sagração episcopal de Martinho teve lugar a 5 de Abril de 556. A sagração da igreja de Dume como sé celebrou-se no ano 558. Como bispo de Dume participou no I Concílio de Braga (561).

A diocese de Dume restringia-se ao seu mosteiro, suas terras, seus servos e famílias, numa extensão territorial igual ou ligeiramente superior aos actuais limites da paróquia do mesmo nome. Este tipo de diocese foi, até então, um facto inédito no Ocidente. Manteve-se até 866, altura em que o seu bispo, Sabarico, se retirou para Mondoñedo, devido às graves dificuldades criadas pelas invasões árabes. Durante este tempo os seus bispos ora eram somente abades e bispos de Dume, ora acumulavam com a Igreja de Braga. 

Quando em 1070 se procedeu à restauração da diocese de Braga, foi ordenado que nela se incorporasse a diocese de Dume. O então bispo de Mondoñedo protelou o cumprimento desta determinação, que só veio a cumprir-se em tempos do arcebispo de Braga S. Geraldo (1101).

Antes do ano 569, morreu o bispo e metropolita de Braga, Lucrécio. Sucedeu-lhe Martinho, sem deixar de ser bispo de Dume e abade do seu mosteiro.

No ano 572 presidiu ao II Concílio de Braga. Na introdução à Actas do Concílio, pode ler-se a interpelação de Martinho aos outros bispos para que se examinem questões de disciplina que possam existir "por ignorância ou por negligência", já que "pela graça de Cristo, nesta Província, nada é duvidoso acerca da unidade e da rectidão da fé". Com a sua cooperação, era já longo o caminho percorrido na consolidação da fé desde a sua chegada à Galécia.

Como metropolita, promoveu a reorganização paroquial, criou novos bispados e dividiu a metrópole bracarense em dois concílios ou sínodos, Lugo e Braga, continuando esta a ser a cabeça. Braga, sede da corte do Reino Suevo, ficou com as dioceses a Sul e a Norte do rio Douro. Há quem vislumbre neste seccionamento uma contribuição para a futura separação entre o Norte e o Sul da Galécia e, mais tarde, o nascimento de Portugal.

De acordo com a informação de Isidoro de Sevilha (De viris illustribus, 35, 45-46), Martinho fundou outros mosteiros. As tentativas para a sua identificação variam, em número e lugar, de autor para autor, sem ser possível chegar a conclusões seguras.

Segundo o Breviário de Soeiro, Martinho, o último dos escritores do Reino Suevo, morreu a 20 de Março de 579.

Foi sepultado na igreja do mosteiro de Dume. Aí se mantiveram o s seus restos mortais até meados do século IX, altura em que, pelo risco que corriam por causa da presença árabe, foram trasladados para Mondoñedo. Sabe-se que no século XV estavam de novo em Dume, na capela-mor da igreja. Em 1545 o arcebispo de Braga, D. Manuel de Sousa, tentou trasladar as relíquias para a catedral. Ante a enérgica oposição do povo de Dume, optou por, temporariamente, escondê-las aí, debaixo do altar-mor. 

Com a sua morte perdeu-se-lhes o rasto, até que, em 1591, são de novo descobertas pelo arcebispo D. Fr. Agostinho de Jesus que decide, uma vez mais, levá-las para Braga. Enquanto se faziam as obras necessárias para as receber, foram trasladadas para a igreja do mosteiro de S. Frutuoso. Finalmente, a 22 de Outubro de 1606, foram levadas para a sé, onde, depois de várias mudanças, podem ser veneradas na Capela das Relíquias. O túmulo que guardava os seus restos mortais, em Dume, encontra-se no Museu D. Diogo de Sousa (Braga).

O X Concílio de Toledo (656), em sintonia com o que era o sentir popular, já desde os contemporâneos de Martinho, tratou-o como santo. Depois, até à restauração da diocese de Braga, em 1070, perdeu-se o rasto do que terá sido o culto a S. Martinho. Parece claro, contudo, que se lhe sobrepôs o culto do seu homónimo S. Martinho de Tours. A partir de finais do século XI o seu nome começa a aparecer, ininterruptamente, nos calendários e livros litúrgicos bracarenses. No breviário bracarense do século XIV, que está na origem do Breviário de Soeiro (séc. XV), S. Martinho aparece como padroeiro da Igreja de Braga. Este título acabará, entretanto, por se perder. Foi retomado oficialmente em 1984. A sua festa litúrgica foi fixada em 22 de Outubro, na diocese de Braga, e em 5 de Dezembro, para Portugal, juntamente com S. Frutuoso e S. Geraldo.

O breviário bracarense de 1588 dá-lhe o título de doutor, que se manteve até tempos recentes. Honra justificada, se considerarmos que, como escreve Madoz, estamos diante de "uma das figuras mais destacadas e eficientes que o olhar do historiador descobre na Igreja ocidental do século VI". A ele se deve o renascimento literário e científico da Galécia do seu tempo. Como sintetiza Aires Nascimento, Martinho de Dume "não só introduziu um modelo de vida cenobítica como, promovendo a conversão do povo suevo, conseguiu ambiente de paz suficiente para reorganizar a sua Igreja, doutriná-la e transmitir aos seus clérigos normas de vida exemplares; preocupou-se em dotar a sua Igreja com textos fundamentais, nomeadamente com os textos conciliares da Igreja Oriental, mas cuidou sobretudo de uma pastoral directa, atenta às situações, interveniente e benevolente". 

Trata-se, enfim, de uma personagem quem antes e depois da sua chegada à Galécia, soube enriquecer-se num mundo de relações que conferem á sua figura e à sua acção sócio-religiosa uma surpreendente dimensão cosmopolita.

D. Pio Alves de Sousa, Bispo auxiliar do Porto, in 'Patrologia Galaico-Lusitana'


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terça-feira, 19 de março de 2024

Ladainha a São José

Senhor, tende piedade de nósSenhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós
Jesus Cristo, tende piedade de nós. 
Senhor, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós.


Jesus Cristo, ouvi-nosJesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo atendei-nos
Jesus Cristo atendei-nos.

Pai do Céu que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do mundo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Espírito Santo que sois Deus, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade que sois um só Deus, tende piedade de nós.

Santa Maria, rogai por nós.


S. José, rogai por nós.
Honra da família de David, rogai por nós.
Glória dos Patriarcas, rogai por nós.
Esposo da Mãe de Deus, rogai por nós.
Castíssimo guardião da Virgem, rogai por nós.
Amparo do Filho de Deus, rogai por nós.
Vigilante defensor de Cristo, rogai por nós.
Chefe da Sagrada Família, rogai por nós.
José justíssimo, rogai por nós.
José castíssimo, rogai por nós.
José prudentíssimo, rogai por nós.
José fortíssimo, rogai por nós.
José fidelíssimo, rogai por nós.
Espelho de paciência, rogai por nós.
Amante da pobreza, rogai por nós.
Modelo dos trabalhadores, rogai por nós.
Glória dos lares, rogai por nós.
Guardião das virgens, rogai por nós.
Sustentáculo das famílias, rogai por nós.
Consolo dos infelizes, rogai por nós.
Esperança dos enfermos, rogai por nós.
Advogado dos moribundos, rogai por nós.
Terror dos demónios, rogai por nós.
Protector da Santa Igreja, rogai por nós.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos Senhor!
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos Senhor!
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós Senhor!

V/ Ele o constituiu Senhor da sua casa.
R/ E o fez príncipe de todos os seus bens. 

Oremos

Ó Deus, cuja inegável providência se dignou escolher o bem-aventurado S. José para esposo de Vossa Mãe Santíssima, fazei que venerando-o como protector na terra, mereçamos tê-lo como nosso intercessor no Céu. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Ámen.


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Dia do Pai. Dia de São José, pai putativo de Jesus.

São Jerónimo enumera algumas razões pelas quais Deus quis que São José estivesse presente em vez de deixar que Nossa Senhora tivesse o Filho sozinha, afinal de contas José não teve qualquer papel na concepção da criança:

1. Por causa da geneologia de Maria, que a obteve de São José (descendente da casa de David, de onde estava profetizado que viria o Messias);
2. Porque Nossa Senhora teria sido apedrejada pelo judeus caso tivesse um filho sem ser casada;
3. Para que tanto Nossa Senhora como Jesus pudessem ter um guardião durante a fuga e permanência no Egipto (e também em Nazaré);
4. (Citando Santo Inácio de Antioquia) Para que o demónio não desconfiasse dos planos de Deus, pensando, assim, que Maria estaria à espera dum filho de José.

São José, 'Terror dos Demónios', rogai por nós.


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segunda-feira, 18 de março de 2024

É agora o tempo da confissão - São Cirilo de Jerusalém

É agora o tempo da confissão. Confessa os teus pecados de palavra e de acção, os da noite e os do dia. Confessa-os neste «tempo favorável» e, no «dia da salvação» (Is 49,8; 2Co 6,2), recebe o tesouro celeste. Deixa o presente e crê no futuro. 

Andaste tantos anos sem parares os teus trabalhos vãos aqui da terra, e não podes parar quarenta dias para te ocupares do teu próprio fim? «Parai! Reconhecei que Eu sou Deus», diz a Escritura (Sl 46,11). Renuncia ao chorrilho de palavras inúteis, não digas mal nem escutes o maldizente, mas dispõe-te desde já a rezar. 

Mostra, na ascese, o fervor do teu coração; purifica esse receptáculo, para receberes uma graça mais abundante. Porque a remissão dos pecados é dada de modo igual a todos, mas a participação no Espírito Santo é concedida segundo a medida da fé de cada um. Se não te esforçares, recolhes pouco; se te esforçares muito, grande será a tua recompensa. És tu próprio que estás em jogo; vela pelos teus interesses.

Se tens um agravo contra alguém, perdoa-lhe. Acabas de receber o perdão dos teus pecados; impõe-se, portanto, que também perdoes o pecador, senão como dirás ao Senhor: «perdoa-me os meus muitos pecados», se tu próprio não perdoares ao teu companheiro de trabalho algumas faltas que tenha cometido contra ti?

in 'Catequese para o baptismo', nº 1, §5


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Rezar, Rezar Continuamente

Em todas as coisas, reza continuamente, pois nada podes fazer sem a ajuda de Deus. Nada é tão poderoso como a oração para nos dar a energia divina. E nada é tão útil como ela para nos obter a benevolência de Deus. A prática dos mandamentos está toda contida na oração. Pois não há nada mais elevado que o amor de Deus.
 
A oração sem distrações é um sinal de amor a Deus naquele que persevera. A negligência e a distração quando se reza denunciam amor ao prazer. Aquele que, sem dificuldade, vela, perserva e reza recebe visivelmente o Espírito Santo. Mas aquele que faz tudo isso com dificuldade e mantém a sua resolução também é atendido sem demora. 
 
Se queres fazer um favor a alguém que gosta de aprender, mostra-lhe a oração, a fé reta e a paciência na provação. É com estas três virtudes que se obtêm os restantes bens. Foge à tentação pela paciência e a oração. Se pensares em combatê-la sem estas virtudes, voltarás a ser atacado por ela. Tudo o que possamos dizer ou fazer sem a oração torna-se perigoso ou inútil.

Temos de procurar a morada interior de Cristo, dado que somos morada de Deus, e, pela oração, perseverar em bater à sua porta (cf Mt 7,7), a fim de que, agora ou na hora da nossa morte, o Senhor nos abra e não nos diga como a homens negligentes: «Não sei de onde sois» (Lc 13,25). E temos, não somente de pedir e receber, mas de guardar aquilo que nos foi dado. Pois há quem perca depois de ter recebido.

Marcos o Asceta, hegúmeno na Ásia Menor in 'Sobre os que se julgam justificados pelas suas obras'


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domingo, 17 de março de 2024

4 consequências gravíssimas da comunhão na mão - D. Athanasius Schneider



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Imagens e Crucifixos cobertos a partir deste Domingo da Paixão

Por que razão se tapam as imagens desde o Domingo da Paixão (quinto Domingo da Quaresma)? 

Tradicionalmente, as duas semanas do tempo "da Paixão" começam no quinto Domingo da Quaresma. A primeira semana é a Semana da Paixão e a segunda semana é a Semana Santa.

A leitura tradicional do Evangelho para este Domingo foca-se no ódio crescente das autoridades judaicas contra Cristo. Acusam-nO de ser um samaritano, de fazer feitiços, de blasfémia e de estar possuído por Satanás. Não pensam em Cristo como "um bom mestre". Julgam que é um agente demoníaco.

A antiga leitura do Evangelho no Primeiro Domingo da Paixão (o quinto Domingo da Quaresma) do capítulo oitavo do Evangelho de S. João acaba com estas palavras “Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou". (Jo 8, 59)

De acordo com Santo Agostinho, neste momento quando "Jesus se ocultou", Cristo ficou de facto invisível devido à Sua natureza divina. Santo Agostinho escreve:

"Ele não se esconde a Si mesmo num canto do templo, como se tivesse medo, ou a correr para uma casa, ou desviando-se para trás de uma parede ou coluna: mas pelo Seu Poder Divino, fazendo-se a Si mesmo invisível, passa pelo meio deles."

Para ajudar a exprimir este mistério, as estátuas e imagens Católicas são tapadas com véus roxos desde as Vésperas do fim de tarde antes do Domingo da Paixão. Jesus "esconde-Se a Si mesmo".

As estátuas permanecem cobertas até ao Glória de Sábado Santo. Este é o momento em que acaba o jejum da Quaresma e começa a glória da Páscoa. Este desvelar revela Cristo que se revelou a si mesmo como ressuscitado e vitorioso.

Também é um costume piedoso para os leigos Católicos cobrirem com véus roxos as imagens e estátuas de casa durante a época da Paixão.

A nossa Fé Católica é tão rica! Assegurem-se que ensinam aos vossos filhos e netos estas tradições antigas e bonitas!

Taylor Marshall


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sábado, 16 de março de 2024

O Islão na Europa

Qual é a raiz ideológica da atitude que hoje (na Europa) temos em relação ao Islão? É a ideia de que não existe um dualismo lógico entre verdade e erro nem um dualismo moral entre bem e mal, mas que tudo é relativo às necessidades e interesses do indivíduo no momento presente.

Relativismo moral e pragmatismo político são duas faces desta abordagem à realidade que não se alimenta da realidade mas da utopia, porque crê num mundo fictício e irreal que o desejo de poder, mascarado de debilidade, do indivíduo pós-moderno é incapaz de conquistar.

Se a Europa quer sobreviver deve modificar esta atitude psicológica e cultural. Mas como é que podemos contribuir para esta mudança? Começando por reavivar a ideia de que existe o bem e o mal, em sentido objectivo e absoluto, e que a verdade e os princípios, sobre os quais está fundada a nossa civilização, não são para arquivar como ideias do passado ou preconceitos ideológicos.

Roberto di Mattei (historiador) in Corrispondenza Romana


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Conferência Episcopal do Gabão visita Seminário Tradicional








No dia 10 de Março, a Conferência Episcopal do Gabão visitou o Seminário do Instituto de Cristo Rei em Gricigliano, perto de Florença, Itália.

Os bispos viajaram de África para a visita ad limina, tendo reunido com o Papa Francisco, dois dias antes, no Vaticano.

A Missa Pontifical do Domingo Laetare foi celebrada por Mons. Matthieu Madega, Bispo de Mouila. Os missionários do Instituto trabalham no Gabão há quase 35 anos, tendo várias igrejas e escolas.

in gloria.tv


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sexta-feira, 15 de março de 2024

Leão XIII e a condenação da Maçonaria

O Papa Pecci escreveu quatro encíclicas contra a Maçonaria. Há uma ligação estreita entre esta condenação e o nascimento da Doutrina Social da Igreja (DSI). E compreende-se que, abandonando a DSI, os erros dos maçons sejam "esquecidos".

Nos últimos dias, todos nós ficámos impressionados com a conferência realizada em Milão entre os principais expoentes da Maçonaria italiana e eclesiásticos de alto nível. Tudo está a mudar na Igreja, infelizmente, e até este "baluarte" está a ser abalado e corre o risco de ser destruído. Todos nós vemos que a onda de confusão parece imparável e incontrolável. Francisco acaba de reiterar a incompatibilidade entre ser maçon e ser católico, e agora o Cardeal Coccopalmerio e o Bispo Staglianò estão a abrir uma mesa de diálogo permanente com a Maçonaria italiana, certamente não sem o seu conhecimento.

Aqueles que se interessam pela Doutrina Social da Igreja não podem deixar de se lembrar de Leão XIII, com quem a Doutrina Social da Igreja nasceu na era moderna, mas contra a modernidade. Leão XIII escreveu quatro encíclicas contra a Maçonaria: Humanum genus de 1884, Dall'alto dell'apostolico seggio de 1890, Inimica vis e Custodi di quella fede, ambas de 8 de Dezembro de 1892. 

Podemos dizer que a condenação da Maçonaria se insere plenamente no quadro das exigências e dos conteúdos da Doutrina Social da Igreja. Na construção deste quadro, o Papa Leão tinha considerado urgente e necessário tomar posição também sobre a Maçonaria. Ele próprio afirma na Humanum genus que formulou o seu próprio ensinamento sobre certas doutrinas sociais e políticas precisamente para contestar os erros da Maçonaria, ao ponto de "atingir directamente a própria sociedade maçónica". 

Existe, portanto, uma estreita ligação entre o nascimento da Doutrina Social da Igreja no pontificado de Leão XIII e uma avaliação negativa da Maçonaria. Segue-se que se a relação da Igreja com a Maçonaria mudasse - como parece estar a acontecer no nosso tempo - o quadro da Doutrina Social também mudaria.

O objectivo da Maçonaria, escreve ele, é "destruir de alto a baixo toda a ordem religiosa e social tal como foi criada pelo Cristianismo e, tomando fundamentos e normas do 'naturalismo', refazê-la a partir do zero". Segundo Leão XIII, a Maçonaria assume e encarna o princípio do naturalismo, que em duas outras encíclicas, a Immortale Dei e a Sapientiae Christianae, ele tinha definido como "o princípio da independência do homem em relação a Deus" e como o dever de "procurar na natureza o princípio e a norma de toda a verdade". 

Daí a lista de erros dos maçons: desautorização dos dogmas, autonomia da consciência, separação da Igreja e do Estado, perseguição das instituições eclesiásticas, luta contra a instituição do papado, promoção do indiferentismo religioso, negação da criação e da providência, desvalorização da ética natural, rejeição da doutrina sobre o pecado original, natureza vista como única norma de justiça, redução do casamento a um contrato civil, promoção do divórcio, laicização do ensino, ateísmo de Estado, soberania popular, exagero da igualdade entre os homens.

Se considerarmos a posição da Igreja hoje sobre todas estas questões, depois da viragem antropológica de Karl Rahner que deu substância sistemática ao naturalismo temido por Leão XIII, percebemos como a Igreja está agora preparada para abrir mesas de trabalho permanentes com as principais lojas maçónicas em Itália. Ao mesmo tempo, compreendemos como apenas chegou a este ponto depois de ter posto de lado a Doutrina Social da Igreja.

Stefano Fontana in lanuovabq.it


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Crucifixo feito à imagem do Santo Sudário



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quinta-feira, 14 de março de 2024

Virtudes e dons de São José - Réginald Garrigou-Lagrange, O.P.

Brilham nele, sobretudo, as virtudes da vida oculta, em grau proporcionado ao da graça santificante: a virgindade, a humildade, a pobreza, a paciência, a prudência, a fidelidade ― que não pode ser quebrantada por nenhum perigo ― a simplicidade, a fé esclarecida pelos dons do Espírito Santo, a confiança em Deus e a mais perfeita caridade. Guardou o depósito que lhe foi confiado com uma fidelidade proporcionada ao preço desse tesouro inestimável. Cumpriu o preceito: Depositum custodi, guarda o que te foi confiado.

Sobre essas virtudes da vida oculta, Bossuet faz estas considerações gerais (30): 

“É um vício comum nos homens entregar-se inteiramente às coisas exteriores e desprezar o interior; trabalhar para as aparências e adornos e menosprezar o efectivo e o sólido; preocupar-se com fazer parecer e não com o que deve realmente ser. Por isso são estimadas as virtudes que envolvem negócios e ocupações e exigem o trato com a sociedade; ao contrário, as virtudes ocultas e interiores, que não levam em conta o público, onde tudo se passa entre Deus e a alma, não só não são praticadas, mas não são sequer compreendidas. E, não obstante, nesse segredo reside todo o mistério da virtude verdadeira... É preciso formar um homem em seu verdadeiro sentido antes de pensar que lugar ocupará entre os outros; e se não se trabalhar sobre essa base, todas as outras virtudes, por mais brilhantes que possam ser, não serão mais que virtudes de vã ostentação... elas não formam o homem segundo o coração de Deus. Ao contrário, José, homem simples, buscou a Deus; José, homem desprendido, encontrou a Deus; José, homem reservado, desfrutou de Deus”.

A humildade de José consolidou-se ao considerar a gratuidade de sua vocação excepcional. Ele deve ter dito a si mesmo muitas vezes: por que razão o Altíssimo me deu o Seu Filho Unigénito para custodiá-Lo, a mim, José, antes que a este ou àquele outro homem da Judeia, da Galileia, ou de outra região e de outro século? Foi unicamente o beneplácito de Deus, beneplácito que é por si mesmo a razão e o motivo pelo qual José foi livremente preferido, escolhido e predestinado desde toda a eternidade, antes deste ou daquele outro homem, a quem o Senhor poderia ter concedido os mesmos dons e a mesma fidelidade para prepará-lo para essa excepcional missão. Vemos nessa predestinação um reflexo fiel da gratuidade da predestinação de Cristo e de Maria.

O conhecimento do valor dessa graça e da sua gratuidade absoluta, longe de prejudicar a humildade de José, confirmou-a. Ele pensava no seu coração: “O que tens que não recebeste?”.

José aparece como o mais humilde de todos os santos depois de Maria; mais humilde que qualquer um dos anjos; e se é o mais humilde, é por isso mesmo o maior de todos, porque todas as virtudes estando conexas, a profundeza da humildade é proporcionada à elevação da sua caridade, como a raiz da árvore é tanto mais profunda quanto mais alta ela é: “Aquele dentre vós todos que é o menor”, disse Jesus, “este será o maior” (31).

Como nota ainda Bossuet: “Possuindo o maior dos tesouros por uma graça extraordinária do Pai Eterno, José, longe de vangloriar-se desses dons ou de revelar as suas vantagens, oculta-se o quanto pode dos olhos dos mortais, desfrutando pacificamente com Deus do mistério que lhe é revelado e das riquezas infinitas que o Altíssimo colocou a seu encargo” (32). “José tem em sua casa motivos para atrair todos os olhares da Terra, e o mundo não o conhece; possui um Deus Homem, e não diz nenhuma palavra; é testemunho de um mistério tão extraordinário, e o aprecia em segredo, sem o divulgar” (33).

A sua fé é inquebrantável, apesar da obscuridade do mistério inesperado. A palavra de Deus transmitida pelo anjo esclarece-lhe a concepção virginal do Salvador: José poderia ter hesitado em acreditar em algo tão extraordinário, mas acreditou firmemente com a simplicidade do seu coração. Por sua simplicidade e humildade, ele ascende às alturas de Deus.

A obscuridade não tarda em reaparecer: José era pobre antes de ter recebido o segredo do Altíssimo, mas tornou-se ainda mais pobre ― observa Bossuet ― quando Jesus veio ao mundo, porque Ele veio com Sua abnegação e desprendimento de tudo para unir-Se a Deus. Não há lugar para o Salvador no último dos albergues de Belém. José deve ter sofrido ao ver que não tinha nada para oferecer a Maria e a seu Filho.

A sua confiança em Deus manifestou-se nas provações, pois a perseguição começou logo após o nascimento de Jesus. Herodes pretendia matá-Lo. O chefe da Sagrada Família devia esconder Nosso Senhor, partir para um país distante, onde ninguém o conhecia e onde não sabia como poderia ganhar a vida. Partiu, colocando toda a sua confiança na Providência.

O seu amor a Deus e às almas não cessa de crescer na vida oculta de Nazaré, pela influência constante do Verbo feito carne, o foco de graças sempre novas e sempre mais elevadas para as almas dóceis, que colocam toda a sua confiança em Deus e não põem nenhum obstáculo às graças que Ele lhes quer dar. 

Dissemos antes, a propósito do progresso espiritual em Maria, que a ascensão dessas almas é uniformemente acelerada, quer dizer, que se dirigem tanto mais rapidamente para Deus quanto mais se aproximam d’Ele e Deus as atrai mais a Si. Essa lei da gravitação espiritual das almas realizou-se exactamente em José; a caridade não parou de aumentar nele, sempre mais prontamente até à sua morte; o progresso de seus últimos anos foi mais acelerado que o dos primeiros anos, porque encontrando-se mais perto de Deus, era mais fortemente atraído por Ele.

Com as virtudes teologais, cresceram também incessantemente nele os sete dons do Espírito Santo, que são conexos com a caridade. Os dons de inteligência e de sabedoria tornavam a sua fé viva cada vez mais penetrante e deleitável. Com fórmulas extremamente simples, mas muito elevadas, a sua contemplação dirigia-se à infinita bondade do Altíssimo. Essa foi, na sua simplicidade, a contemplação sobrenatural mais sublime depois da de Maria.

Essa contemplação amorosa lhe era muito doce, mas exigia a mais perfeita abnegação e o mais doloroso dos sacrifícios, quando recordava as palavras do velho Simeão: “Este menino será um sinal de contradição”, e as dirigidas a Maria: “Uma espada de dor transpassará a tua alma”. A aceitação do mistério da Redenção por meio do sofrimento apareceu para José como a consumação dolorosa do mistério da Encarnação, e ele necessitava de toda a generosidade do seu amor para oferecer a Deus, no sacrifício supremo, o Menino Jesus e a sua Santíssima Mãe, a quem amava infinitamente mais do que a sua própria vida.

A morte de São José foi uma morte privilegiada; assim como a da Santíssima Virgem, foi ― disse São Francisco de Sales ― uma morte de amor (34). O santo admite também, com Suárez, que José estava entre os santos que, segundo São Mateus (35), ressuscitaram após a Ressurreição de Nosso Senhor e manifestaram-se na cidade de Jerusalém; ele argumenta que essas ressurreições foram definitivas e que José entrou no Céu em corpo e alma. Santo Tomás é muito mais reservado sobre esse ponto: depois de ter admitido que as ressurreições que se seguiram à de Jesus foram definitivas (36), mais tarde, examinando as razões contrárias aduzidas por Santo Agostinho, concluiu que estas são muito mais sólidas (37).

Padre Réginald Garrigou-Lagrange, O.P. in 'A predestinação de São José e sua eminente santidade'

Notas:
30. Segundo panegírico de São José, exórdio.
31. Lc 9, 48.
32. Primeiro panegírico de São José, exórdio.
33. Segundo panegírico de São José, ponto terceiro.
34. Tratado do Amor de Deus, 1. VII, c. XIII.
35. Mt 27, 52 ss.
36. IV Sent. 1. IV, dist 42, q. 1, a. 3
37. Cf. IIIª, q. 53, a. 3, ad 2.


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