sábado, 10 de fevereiro de 2018

Padre, um "recasado" pode comungar?

Um sacerdote, Pe. Antonio Grappone, responde às dúvidas e perguntas sobre um tema de grande actualidade, à luz do Magistério da Igreja

O divorciados recasados não podem receber a comunhão porque são mais pecadores do que os outros?

Não, o problema é a dimensão pública: o divorciado recasado vive publicamente em contradição com o sacramento do matrimónio. Todos os sacramentos, e a Comunhão em especial, manifestam (tornam pública) a plena adesão a Cristo e à Igreja; o divorciado recasado nega publicamente esta comunhão, independentemente das intenções subjectivas que tenha, porque vive em contradição com o sacramento que ele mesmo, livremente, celebrou: esta contradição depende exclusivamente dos seus comportamentos e não de qualquer acção disciplinar da Igreja. Conceder os sacramentos nestas condições resultaria numa negação da missão salvífica da Igreja, que é necessariamente pública. Porém, isso não exclui de nenhuma forma os divorciados recasados de todos aqueles actos que não envolvam um compromisso público na comunidade cristã, nem constitui um juízo sobre o estado de sua alma.

Portanto, o sacerdote não pode absolver um divorciado recasado que se confessa? 

Com certeza deve absolvê-lo se o penitente decidiu viver com o novo “cônjuge” como irmão e irmã, não mais como marido e mulher, e isso também com eventuais quedas por fraqueza, porque é a intenção que conta. Além do mais deve ser absolvido também se manifesta sinais de autêntico arrependimento com relação ao "segundo casamento", embora ainda não se sinta capaz de tomar a decisão acima, porque se está a abrir à graça e, portanto, deve ser apoiado. O papel do confessor é importante: por um lado deve avaliar a força do arrependimento, por outro, com a sua caridade e uma palavra esclarecedora, pode levar o pecador ao arrependimento. Os santos confessores são capazes de absolver quase sempre, não porque sejam “laxistas”, mas porque sabem suscitar a dor pelos pecados. 

Os divorciados que voltaram a casar nunca mais poderão receber a comunhão? 

Podem recebê-la se receberam a absolvição sacramental, como nos casos mencionados anteriormente, especialmente quando decidiram viver como irmão e irmã, por amor a Cristo, o que é desejável e totalmente possível com a ajuda da graça. Neste caso, longe de ser raro ou impossível, a sua própria relação tranquiliza-se e tornam-se um exemplo edificante para os próprios filhos. Para evitar criar confusão entre o povo de Deus, é importante que recebam os sacramentos nas comunidades onde a sua situação de divorciados recasados não seja conhecida. 

O sacerdote pode negar a Comunhão a quem se apresenta publicamente para recebê-la? 

Não. Só se nega a Comunhão quando haja um julgamento público que exclui a possibilidade de receber os sacramentos (excomunhão, interdito), e o sacerdote tem certeza de que não tenha sido revogada, ou também quando aquele que se apresenta para receber o faz abertamente para ridicularizar ou como desafio da comunidade cristã. Aproximar-se ou não da Eucaristia, na verdade, depende da consciência de quem comunga: um divorciado casado de novo que não se arrependeu deveria avaliar por ele mesmo a inadequação de receber os sacramentos. O sacerdote não deveria tomar o lugar da consciência dos fieis; não sabe se houve um arrependimento sério (contrição) e de qualquer forma deve evitar ferir publicamente um pessoa, uma vez que resultaria em um dano espiritual maior. 

Então, o que pode fazer um sacerdote para evitar que um divorciado recasado não arrependido receba a comunhão? 

De momento, nada. Se conhece a pessoa pode, na forma adequada e oportuna, instruí-lo sobre a disciplina da Igreja, que é exercício de misericórdia também quando tem que dizer não. 

Que sentido faz a comunhão de um divorciado recasado não arrependido? 

Não faz sentido, e é espiritualmente prejudicial. Recebemos os sacramentos para viver como filhos de Deus, na santidade, ou, pelo menos, para irmos naquela direcção; não se trata de um direito adquirido, nem serve para nos confirmar nas nossas escolhas, como uma espécie de atestado de boa conduta ("o que faço eu de mal?"), e muito menos para atender às necessidades "místicas". Tal atitude desvaloriza os sacramentos, reduzindo a vida cristã à dimensão das misérias humanas e nada mais, e os sacramentos apenas a um "consolo" psicológico, que cobre as feridas as curar: um pietismo ilusório que termina roubando a esperança de uma vida nova. 

in Zenit


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