quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

D. Bosco recomendava a Missa diária

"Tende grande cuidado em ir à Santa Missa, mesmo nos dias da semana, ainda que para isso tenhais que sofrer algum incómodo. Pois com isso obtereis do Senhor toda a espécie de bênçãos."

São João Bosco


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Dia do grande São João Bosco



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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

D. Athanasius Schneider fala sobre a Fraternidade de São Pio X

O vaticanista Edward Pentin, do National Catholic Register, entrevistou D. Athanasius Schneider. A entrevista pode ser lida aqui. Publicamos, por agora, a resposta de D. Athanasius sobre a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X (FSSPX) porque é um assunto bastante recorrente nos nossos dias e que levanta muitas questões. Vale a pena recordar que D. Athanasius Schneider foi enviado pela Santa Sé aos seminários da FSSPX como visitador, por isso está bem informado em relação a esta matéria.

Edward Pentin: Qual é o seu ponto de vista sobre a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X? Tem simpatia pela sua posição?

D. Athanasius Schneider: O Papa Bento XVI e o Papa Francisco falaram, em várias ocasiões, com bastante compreensão em relação à FSSPX. Foi particularmente enquanto Cardeal de Buenos Aires que o Papa Francisco ajudou a FSSPX a resolver algumas questões administrativas. O Papa Bento XVI disse uma vez sobre o Arcebispo Marcel Lefebvre: "Ele foi um grande Bispo da Igreja Católica". O Papa Francisco considera a FSSPX Católica e expressou-o várias vezes publicamente. 

Portanto, o Papa procura uma solução pastoral, e fez generosas providências pastorais, concedendo aos padres da FSSPX a faculdade ordinária de ouvir confissões e as faculdades condicionais para celebrar canonicamente o casamento. Quanto mais a confusão doutrinal, moral e litúrgica cresce na vida da Igreja, mais compreenderemos a missão profética do Arcebispo Marcel Lefebvre num tempo extraordinariamente tenebroso de uma generalizada crise na Igreja.

Talvez um dia a História lhe venha a aplicar as seguintes palavras de Santo Agostinho: 

“Por vezes, permite a própria divina Providência que homens justos sejam desterrados da Igreja Católica por causa de alguma violência partidária muito turbulenta da parte de homens carnais. Se as vítimas dessas injustiças ou injúrias suportarem com paciência, pela paz da Igreja, sem introduzir movimentos cismáticos ou heréticos, ensinarão a todos, com que verdadeiro afecto e sincera caridade se deve servir a Deus. 

A intenção de tais homens é o regresso, uma vez passada a tempestade. Ou, se não lho permitirem - por não ter cessado o temporal ou por haver ameaça de que se enfureça ainda mais com o seu retorno - mantenham-se na firme vontade de prover o bem dos próprios agitadores a cuja sedição e turbulência tiveram de ceder. Defendam até morrer e sem suscitar divisões, ajudem com seu testemunho a manter aquela Fé que sabem ser pregada pela Igreja católica.” (De vera religione 6, 11).

Tradução: Miguel Pereira da Silva


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A impunidade do Comunismo



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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

D. Jorge Ortiga manda a doutrina da Igreja às urtigas

O documento "Construir a Casa sobre a Rocha", da Arquidiocese de Braga, vai directamente contra os ensinamentos de Cristo e da Igreja. O Arcebispo Jorge Ortiga apresenta com todo o orgulho a "solução" para os 'recasados': É possível viver em adultério e aceder aos sacramentos. Realmente tudo é possível quando se põe de lado a Fé e a Razão.

Os Bracarenses têm muito com que se orgulhar nas longas páginas da sua história, mas infelizmente as recentes décadas têm manchado a Arquidiocese, culminando na recente tragédia: o lançamento de um texto que arrisca ser considerado um dos piores documentos jamais visto no universo católico. O documento ataca directamente o primeiro e o sexto mandamento da lei de Deus, colocando explosivos em toda a doutrina católica, porque indirectamente mina toda a lei de Deus.

O documento da Arquidiocese de Braga que tenta conciliar a doutrina da Igreja com o enorme número de divórcios que as últimas décadas produziu, falha em todas as frentes. É teologicamente medíocre, não tem bases que suportem a nova doutrina e é pastoralmente injusto. Braga afirma contra tudo e contra todos que quem se encontra em adultério pode comungar, sim: o pecado deixou de ser um obstáculo para o comungante. Para além de ir contra tudo o que a Igreja sempre ensinou, contra o magistério recente e também vai contra tudo o que Nosso Senhor Jesus Cristo disse em relação ao casamento. E as injustiças não são menos graves.

Imaginemos um casal que se separou: O Sr. António apaixona-se pela menina Madalena e larga a Sra. Joana que é sua esposa. O Sr. António casa pelo civil com a Sra. Madalena pouco querendo saber se está em adultério ou não, mas a Sra. Joana, sabendo que arranjar outro homem vai contra a lei de Deus, segue uma vida de castidade, rezando pelo marido e vendo com tristeza que ele arranjou outra mulher. Segundo o Arcebispo de Braga o Sr. António passados 5 anos de adultério pode passar a comungar se assim o seu discernimento pessoal o permitir. Esta situação é altamente injusta para a Sra. Joana e coloca em causa a própria credibilidade da Igreja. Ou imaginemos o caso do devoto Sr. Joaquim que vive em abstinência há quarenta anos, depois da sua esposa o ter trocado por um guitarrista de cabelo comprido. Que tipo de nova justiça é esta que deixa mal o abandonado e premeia o autor do mal sem que este mude de vida.

Tudo isto acerta bem no centro de três sacramentos da Igreja: o Matrimónio fica a parecer dissolúvel e perde a qualidade sagrada, relativizando-se as promessas e abolindo-se as obrigações; a Confissão não é mais necessária para a absolvição de um pecado, neste caso o de adultério; com a Eucaristia comete-se sacrilégio e a banalização, torna-se em mercadoria para quem se sentir apto a comprar. 

Viver com alguém fora do casamento viola o sexto mandamento da lei de Deus, é mais grave que roubar e encontra-se entre o mandamento de não matar e do mandamento de não roubar, exactamente porque provoca os dois crimes: mata e rouba. Comungar tendo cometido este grave pecado, sem contrição e sem vontade de mudança vai contra o primeiro mandamento da lei de Deus.

E quais são as bases para tal revolução? Como pode um adúltero sair do seu estado de adultério sem arrependimento e conversão? O Matrimónio na Igreja é indissolúvel, sempre o foi e quem disser o contrário corre o risco de excomunhão definida pelo Concílio de Trento. A absolvição dos pecados só existe se o pecador estiver arrependido do seu pecado, tiver intenção de não o voltar a repetir, e se o confessar a um Padre. Comungar em pecado é um sacrilégio e quem trocar esposa(o) por outra(o) comete adultério, definido pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo: "quem repudia a sua mulher e casa com outra comete adultério em relação à primeira; e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outro, comete adultério": Mc 10, 11-12.

Para não nos alongarmos aqui em citações bastará citar o Catecismo número 1650: “A Igreja mantém, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro Matrimónio foi válido. Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objectivamente contrária à lei de Deus. Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persistir tal situação.”

O Arcebispo de Braga Jorge Ortiga atira às urtigas a doutrina da Igreja e tem de ser corrigido por isso. O ofício de Bispo não lhe dá o direito de criar ou alterar a doutrina. O ofício de Bispo é para preservar o Depósito de Fé que lhe foi entregue. A Revelação acabou com a morte dos Apóstolos e a Igreja tem o dever de a preservar.

Para além do Arcebispo estar a fazer mal aos seus fiéis, também está a minar aquilo que é a rocha onde a Igreja tem os seus apoios: a continuidade e a fidelidade à perene doutrina. Qual é o impedimento que um fiel bracarense tem para não acatar as ordens do seu Bispo, se este mesmo Bispo não acata as ordens dos anteriores Bispos? Pode um Bispo entrar em contradição com outro Bispo sem lapidar parte do Corpo de Cristo, Aquele que é a Verdade? A Arquidiocese perdeu o norte, parecendo um catavento em vez de um barco. 

Talvez seja apropriado dizer que, no contexto da imagem usada pelo Papa Bento XVI o ano passado sobre o barco em que entra água por todos os lados: Braga está já submersa. O modernismo tem destas coisas e o homem moderno padece de várias patologias. Uma delas é a de ter uma mente aberta, tão aberta que a mioleira sai para fora da cabeça. A razão e a simples lógica são colocadas de lado devido a uma suposta misericórdia que em vez de salvar condena e que tenta esconder a verdade debaixo do tapete.

Fazem parte das obras de misericórdia entre outros: dar bons conselhos, ensinar os ignorantes e corrigir os que erram. Nos tempos que correm a Igreja está muito necessitada de almas que corrijam os erros, porque eles são muitos e levam à perdição de muitas boas almas. Infelizmente cabe ao fieis corrigir os seus superiores naquilo que parecem ser erros doutrinais crassos. Fico feliz se estiver errado e agradecia que me corrigissem.

Miguel Pereira da Silva


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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

'Marche pour la vie' lança vídeo comovente sobre o aborto



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Acto de petição

Acto de petição para ser rezado depois da comunhão ou quando for preciso:

"Senhor Jesus, vós conheceis a minha fraqueza e as necessidades da minha alma: concedei-me a graça de me tornar melhor. Socorrei a vossa santa Igreja. Abençoai os meus pais, superiores, amigos e inimigos, e dai-nos a todos a graça de estar reunidos um dia no Céu."


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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Não há reforma sem conversão de vida - Padre Fernando António


Queremos reformar a Cúria Romana, queremos reformar os outros e esquecemo-nos da nossa própria reforma de vida…

Esquecemo-nos que só se pode ser realmente cristão num caminho de conversão e de santidade...

Esquecemo-nos da luta espiritual... e ignorámos o poder sedutor do mal dizendo que o Diabo não existia... Ora aí está ele, a esfregar as mãos de contente! Temos agora várias gerações de cristãos que não foram minimamente iniciados à vida cristã, à luta espiritual.

Andaram dez anos na catequese para aprender que "Jesus é nosso amigo"... e basta. E depois admiramo-nos e escandalizamo-nos com o pecado... E as palavras de Jesus são muito claras: 

«Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e são muitos os que entram por ela… e estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz à vida, e são poucos os que acertam com ela» (Mateus 7, 13-14). 

Não há reforma sem conversão de vida… 

Esta é uma verdade fundamental que, para nosso mal, está esquecida há meio século... 

Quando vemos os irmãos cair apontamos o dedo… mas nós vamos pelo mesmo caminho… 

De facto, continuamos a seguir cegamente as mesmas cartilhas ideológicas por onde estudaram aqueles que agora aparecem nas páginas dos jornais… padres, bispos, cardeais e outros cristãos, que pelos seus pecados são causa de escândalo… simplesmente porque se fascinaram com o “mundo”, e se esqueceram de que não há reforma sem conversão e santidade de vida.

Padre Fernando António


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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

domingo, 21 de janeiro de 2018

Quando Santa Inês sobreviveu à bomba atómica...na ONU

Recentemente visitei os escritórios principais da ONU em Manhattan, Nova Iorque. Numa visita guiada aprendemos sobre a história da ONU e as suas várias missões no mundo e visitámos algumas das salas principais de conferências, com lugares específicos para cada país membro. É impressionante visitar uma instituição tão famosa e com um factor tão grande de decisão no mundo de hoje como esta.

Infelizmente, muitas das missões que a ONU tem não correspondem àquilo que as pessoas esperam dela. Muitas incluem a promoção da ideologia de género ou propaganda de planeamento familiar com imposição dos métodos contraceptivos em países subdesenvolvidos. Claro que isto não anula o bem que a ONU traz às relações diplomáticas entre os países, mas não deixa de ser assustador.
Nos largos corredores das salas de assembleia, onde poucos visitantes costumam ir, há obras de arte relacionadas com as missões da ONU. Há obras sobre a paz e a união dos povos, mas também sobre as várias religiões. Há até uma réplica de um grande templo budista com relíquias do próprio Buda lá dentro. Surpreendentemente, quase não há símbolos cristãos nestes corredores. O que encontrámos foi uma imagem de uma grande mulher Cristã, mas não estava lá pelas razões que esperávamos.

Uma das partes estava dedicada à explosão das bombas atómicas no final da II Guerra Mundial e pretendia mostrar o efeito destruidor das armas de destruição maciça. Era precisamente neste sítio que se encontrava uma imagem de pedra de Santa Inês, uma das mártires mais importantes na história do Cristianismo. Mas a estátua não estava lá por ser uma imagem de uma Santa, mas por ser um exemplar que sobreviveu à explosão de Nagasaki.

As imagens de Nagasaki depois da explosão mostram que a explosão foi total - nenhuma parede ficou de pé. No entanto, a imagem de Santa. Inês permaneceu intacta, ficando apenas com as costas danificadas.

A placa da estátua diz que "esta estátua de pedra de Santa Inês foi encontrada virada para baixo nas ruínas de Urakami Tenshudo, uma Catedral Católica que foi totalmente destruída quando a bomba atómica explodiu em Nagasaki, no Japão. A carbonização e manchas na parte de trás da estátua foram causadas pelo intenso calor e radiação. A catedral localizava-se a meio quilómetro do epicentro da explosão a 9 de Agosto de 1945."

Quando perguntei ao guia porque é que a estátua estava ali em exposição ele disse que era para mostrar os efeitos da explosão. Eu disse que era impressionante a estátua ter-se mantido incólume quando tudo se tinha destruído. Mas ele respondeu que não era assim tão impressionante, dado que a catedral tinha sido toda destruída. E continuámos a visita.

Nuno CB







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sábado, 20 de janeiro de 2018

March for Life 2018: a multidão contra o aborto que os 'media' insistem em ignorar



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O Relatório Final do Sínodo Extraordinário dos Bispos de Outubro de 1985 sobre o Concílio Vaticano II (2ª parte)

Depois da 1ª parte, concluo assim com a publicação desta 2ª parte dos excertos do Relatório Final (RF), à qual acrescentei um Posfácio, o artigo com o título acima.

II. Temas Particulares do Sínodo

«[…] uma atenção especial deve ser prestada ao Fenómeno do secularismo. Sem qualquer dúvida o Concílio afirmou a legítima autonomia das realidades temporais (GS, 36 e noutra parte). Neste sentido, uma secularização correctamente entendida deve ser admitida. Mas nós estamos a falar de algo totalmente diferente: do secularismo que consiste numa visão autonomista do homem e do mundo e que deixa de lado a dimensão do mistério, de facto negligencia-a e nega-a. Este imanentismo é uma redução da visão integral do homem, uma redução que leva não à sua verdadeira libertação, mas a uma nova idolatria; à escravidão das ideologias; a uma vida em redutoras e frequentemente opressivas estruturas deste mundo» (RF, II, A 1).

«A primeira missão da Igreja, sob o impulso do Espírito Santo, é pregar e testemunhar as boas e alegres notícias da eleição, da misericórdia e da caridade de Deus que se manifestam na história da salvação, a qual, através de Jesus Cristo, atingem o seu cume na plenitude dos tempos e que se comunicam e oferecem a salvação ao homem por virtude do Espírito Santo. Cristo é a luz da humanidade!» (RF, II, A 2).

«Toda a importância da Igreja deriva da sua conexão com Cristo. […] Nós não podemos substituir uma visão falsa e unilateral da Igreja como puramente hierárquica por uma nova concepção sociológica também ela unilateral» (RF, II, A 3).

«[…] o Concílio proclamou a vocação de todos os fieis à santidade (cf. LG 5). […] Nos nossos dias, sobretudo, quando tantas pessoas sentem um vazio interior e uma crise espiritual, a Igreja tem de preservar e energicamente promover o sentido da penitência, da oração, da adoração, do sacrifício, da entrega de si, da caridade e da justiça. […] Hoje, temos uma tremenda necessidade de santos, através de quem precisamos de implorar a Deus assiduamente» (RF, II, A 4).

«[…] a pregação do Evangelho está entre os principais deveres da Igreja, e de modo especial dos bispos, e hoje em dia isto assume a maior importância (cf. LG 25)» (RF, II, B a) 1).

«Para esta Constituição [a Dogmática Dei Verbum] também é necessário evitar uma leitura parcial. Em particular, a exegese do significado original da Sagrada Escritura, muito altamente recomendada pelo Concílio (cf. DV 12), não pode ser separada da tradição viva da Igreja (cf. DV 10). A falsa oposição entre responsabilidades doutrinais e pastorais tem de ser evitada e ultrapassada. De facto, a verdadeira intensão do trabalho pastoral consiste em realizar a verdade da salvação e torná-la concreta, a qual é, em si mesma, válida para todos os tempos. Como verdadeiros pastores, os bispos devem indicar o caminho certo ao rebanho; fortalecer a fé do rebanho; manter os perigos longe dele» (RF, II, B a) 1).

«Assim, os bispos são não apenas os únicos mestres dos fieis, mas arautos da fé que leva novos discípulos a Cristo (cf. LG 25). A evangelização é o primeiro dever não só dos bispos, mas também dos padres e dos diáconos; realmente, de todos os cristãos. Hoje, por toda a parte na Terra a transmissão da fé e dos valores morais aos jovens, derivados do Evangelho, está em perigo. Frequentemente, o conhecimento da fé e a aceitação da ordem moral são reduzidas ao mínimo. Em consequência, é requerido um novo esforço na evangelização e numa integral e sistemática catequese» (RF, II, B a) 2).

«Com alegria reconhecemos o que foi feito pelos teólogos para elaborar os documentos do Concílio Vaticano II e para ajudar no sentido da sua fiel interpretação e frutuosa aplicação no período pós-conciliar. Mas por outro lado, lamentamos que as discussões teológicas dos nossos dias tenham ocasionado por vezes confusão entre os fieis. Por conseguinte, a comunicação e o diálogo recíproco entre os bispos e os teólogos são necessários para a edificação da fé e sua mais profunda compreensão» (RF, II, B a) 3).

«Muitos [dos bispos sinodais] expressaram o desejo de que fosse composto um catecismo ou compêndio de toda a doutrina Católica respeitante tanto à fé como à moral, que pudesse ser, como [sempre] foi, um ponto de referência para os catecismos ou compêndios que são preparados nas várias regiões. A apresentação da doutrina deve ser bíblica e litúrgica. Tem de ser uma sólida [sound, no original] doutrina, adaptada à vida presente dos cristãos» (RF, II, B a) 4).

«A renovação litúrgica não pode ser limitada a cerimónias, ritos, textos, etc. A participação activa, tão aumentada, felizmente, depois do Concílio, não consiste apenas na actividade exterior, mas acima de tudo na participação interior e espiritual, em vívida e frutuosa participação no mistério pascal de Jesus Cristo (cf. SC 11). É evidente que a liturgia tem de favorecer o sentido do sagrado, realçando-o com brilho. Tem de estar permeada pelo espírito de reverência, adoração e glória de Deus» (RF, II, B b) 1).

«Os bispos deveriam não meramente corrigir os abusos, mas deveriam também explicar claramente a toda a gente o fundamento teológico da disciplina sacramental e da liturgia. A catequese deve novamente tornar-se uma via que leva à vida litúrgica (catequese mistagógica), como era o caso nos começos da Igreja. Os futuros padres deveriam aprender a vida litúrgica de uma maneira prática, assim como saberem teologia litúrgica» (RF, II, B b) 1).

«[…] a eclesiologia de comunhão não pode ser reduzida a puras questões organizacionais ou a problemas simplesmente relacionados com poderes. Não obstante, a eclesiologia de comunhão é também o fundamento da ordem na Igreja e especialmente de um correcto relacionamento entre unidade e pluriforma [pluriformity no original] na Igreja» (RF, II, C 1).

«[…] mas é necessário distinguir pluriforma de pluralismo puro. Quando a pluriforma é verdadeiro enriquecimento e com ela transporta plenitude, constitui verdadeira catolicidade. O pluralismo de posições opostas [em questões] fundamentais, ao contrário, leva à dissolução, destruição e perda de identidade» (RF, II, C 2).

«O espirito colegial é a alma da colaboração entre os bispos ao nível regional, nacional e internacional. Acção colegial, no sentido estrito, implica a actividade de todo o Colégio, junto com a sua Cabeça, sobre toda a Igreja. Na sua máxima expressão encontra-se num Concílio Ecuménico. Em toda a questão teológica respeitante à relação entre o Primado [do Pontífice Romano] e o Colégio dos bispos, não pode fazer-se uma distinção entre o Pontífice Romano e os bispos considerados colectivamente, mas antes entre o Pontífice Romano [«só»] e o Pontífice Romano junto com os bispos (LG, Nota Explicativa Prévia, 3), porque o Colégio existe com a sua Cabeça e nunca sem ela - o sujeito do supremo e pleno poder em toda a Igreja (LG 22)» (RF, II, C 4).

«Nós os bispos, desejamos ardentemente que a comunhão incompleta já existente com as Igrejas não-Católicas e comunidades, possa, com a graça de Deus, chegar ao ponto da plena comunhão» (RF, II, C 7).

«O diálogo [ecuménico] deve ser espiritual e teológico. O movimento ecuménico é favorecido de modo especial pela oração mútua. O diálogo é autentico e frutuoso se apresentar a verdade com amor e fidelidade com respeito à Igreja. Neste caminho, o diálogo ecuménico leva a que a Igreja seja vista mais claramente como sacramento da unidade» (RF, II, C 7).

«[…] nós afirmamos a grande importância e oportunidade da Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Ao mesmo tempo, contudo, nós notamos que os sinais do nosso tempo são, em parte, diferentes dos do tempo do Concílio, com maiores problemas e angústia» (RF, II, D 1).

«[…] a relação entre a história humana e a salvação é para ser explicada à luz do mistério pascal. Certamente a teologia da cruz não exclui de todo a teologia da criação e incarnação, mas como é claro, pressupõe-na. Quando nós cristãos falamos da cruz, não merecemos ser rotulados de pessimistas, mas antes fundamentamo-nos sobre o realismo da esperança cristã» (RF, II, D 2).

«A partir desta perspectiva pascal que afirma a unidade da cruz e da ressurreição, descobre-se o significado verdadeiro - e o falso - do assim chamado “aggiornamento”. Uma fácil acomodação [adaptação ou compromisso: accomodation, no original] que poderia levar à secularização da Igreja é de excluir. Também de excluir, é um fechamento imóvel sobre si mesma da comunidade dos fieis. Afirmada em vez disso, é uma abertura missionária para a salvação integral do mundo. […] Mas a salvação integral é obtida só se estas realidades humanas forem purificadas e depois elevadas pela graça e familiaridade com Deus, através de Jesus Cristo, no Espírito santo» (RF, II, D 3).

«A partir desta perspectiva nós descobrimos também o princípio teológico para o problema da inculturação. Porque a Igreja é comunhão, a qual junta diversidade e unidade estando presente através do mundo, ela toma de cada cultura tudo o que encontra de valor positivo. Contudo a inculturação é diferente de uma simples adaptação exterior, porque significa a íntima transformação de autênticos valores culturais pela sua integração no Cristianismo de variadas culturas humanas» (RF, II, D 4).

«O Concilio Vaticano II afirmou qua Igreja Católica não recusa nada do que é verdadeiro e santo nas religiões não-Cristãs. […] O Concílio também afirmou que Deus não nega a possibilidade de salvação a ninguém de boa-vontade (LG 16)» (RF, II, D 5).

«As possibilidades concretas de diálogo nas várias regiões dependem de muitas circunstâncias concretas. Tudo isto é também verdade para o diálogo com os não-crentes. O diálogo não deve opor-se à missão. O diálogo autêntico tende a trazer a pessoa humana a abrir-se e a comunicar a sua inferioridade [inferiority no original; gralha em vez de interiority, interioridade?] àquele com quem ele está falando. Mais ainda, todos os Cristãos receberam de Cristo a missão de fazer de todos os povos discípulos de Cristo (Mt 28,18). Neste sentido Deus pode usar o diálogo entre Cristãos e não-Cristãos e entre Cristãos e não-crentes como caminho para comunicar a plenitude da graça» (RF, II, D 5).

«A Igreja deve profeticamente denunciar toda a forma de pobreza e opressão e por toda a parte defender e promover os fundamentais e inalienáveis direitos da pessoa humana. Isto é sobretudo o caso onde esteja em questão a defesa da vida humana desde o momento do seu início exacto; da sua protecção de agressores em cada circunstância; e da sua promoção efectiva em todos os aspectos» (RF, II, D 6).

«O Sínodo expressa a sua comunhão com aqueles irmãos e irmãs que sofrem perseguição por causa da sua fé e que sofrem devido à promoção da justiça; o Sínodo eleva orações a Deus por eles» (RF, II, D 6).

«A missão salvífica da Igreja relativamente ao mundo deve ser entendida como um todo integral. Embora seja espiritual, a missão da Igreja envolve a promoção humana, mesmo em aspectos temporais. Por esta razão a missão da Igreja não pode ser reduzida a um monismo, não importando como este é entendido. Nesta missão existe certamente uma clara distinção – mas não uma separação – entre os aspectos naturais e os sobrenaturais. Esta dualidade não é um dualismo. É assim necessário pôr de lado as falsas e inúteis oposições entre, por exemplo, a missão espiritual e a “diaconia” [13] pelo mundo» (RF, II, D 6).

«Na conclusão desta assembleia, o Sínodo, das profundezas do nosso coração, dá graças a Deus Pai, por Seu Filho, no Espírito Santo pela maior graça deste século [XX], isto é o Concílio Vaticano II» (RF, II, D 7).

«Nós bispos, todos nós, juntamente com Pedro e sob a sua chefia, esforçámo-nos por compreender mais profundamente o Concílio Vaticano II e por o implementar correctamente na Igreja. Foi esse o nosso objectivo durante este Sínodo. […] A mensagem do Concílio Vaticano II já foi bem-vinda com grande acordo pela Igreja inteira, e permanece a “Magna Carta” para o futuro» (RF, II, D 7).

«Finalmente, possa chegar nos nossos dias aquele “novo Pentecostes” de que o Papa João XXIII já tinha falado e de que nós, com todos os fieis, esperamos do Espírito Santo» (RF, II, D 7).

Posfácio

Poder-se-á comentar que ao divulgar (14) este documento dos Bispos de 1985 sobre o CV II, eu estarei a procurar ser conciliador. Concordo! De facto, procuro. No ano que findou (2017) e durante o qual, obviamente sem precedentes na história da Igreja, esta se permitiu, ao mais alto nível, celebrar (sic) a rotura operada no século XVI, chamada Reforma, julgo ser da máxima importância todo e qualquer cuidado e esforço postos na manutenção e até acréscimo da unidade católica, universal, de todos os baptizados na Santíssima Trindade!

Com efeito, a túnica «sem costura, tecida de uma só peça» que revestiu o Corpo de Cristo – do qual a Igreja é misticamente uma concretização - e que os soldados que repartiram as outras suas roupas, após o pregarem na cruz, não ousaram rasgar (cf. Jo 19,23-24) não deverá manter-se assim? Não a romperam os próprios carrascos de Cristo. Efectivamente, diz São João que assim «foi o que fizeram os soldados» (Jo, 19,24). Ora, quanto mais nós, não devemos rasgar ainda mais a túnica, se não desejarmos comportarmo-nos ainda pior que os carrascos de Jesus, mas antes como Seus fieis discípulos!

Mais: penso que não podemos separar uns dos outros - com hermenêuticas da rotura, independentemente de quem as aplica e do lado de onde provêm - os 21 Concílios ecuménicos que fazem parte da história da Igreja (15), ocorridos desde o ano 325 até 1965. Todos eles foram legítimos, confirmados ou pelo menos aceites pelo Sucessor de Pedro; todos ocorreram naturalmente em diversos contextos históricos; com documentos, afirmações ou condenações de diverso peso, natureza e força dogmática, pastoral ou disciplinar.

Penso que a interpretação de todos os 21 Concílios ecuménicos, só pode fazer-se segundo uma «hermenêutica da reforma, da renovação na continuidade». Penso que ou se aceitam todos os 21 Concílios, em bloco, embora tendo em conta tudo o que teologicamente os distingue entre si; ou se rompe com todos, ao infligir entre tal e tal Concílio uma descontinuidade fatal. Penso que não há alternativa, segundo a lógica racional mais elementar, mas, sobretudo, segundo a fé católica e apostólica, da qual o legítimo Sucessor de Pedro, como Cabeça visível, e com ele os Bispos, cum Petro et sub Petro, são os garantes ao longo da História.

Nem devemos privilegiar um qualquer Concílio em relação a outro: «A Igreja é uma e a mesma através de todos os Concílios» (cf. RF, I,5).

E concluo com uma exortação: uma vez que estamos na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - já em 1894, Leão XIII encorajava a pratica de uma Oitava de Oração pela Unidade - rezemos pelo incremento da visibilidade da unidade católica, na mesma e única fé, nos mesmos sete sacramentos, na mesma hierarquia! (cf. Catecismo da Igreja Católica, nº 813-816).

Janeiro de 2018, durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

João Duarte Bleck, médico e leigo Católico

Referências (da 2ª parte)

13. Diaconia, palavra de origem grega que significa o serviço que se presta.

14. Recordo que a 1ª parte das duas que constituem este artigo, foi já anteriormente publicada.

15. cf. o respectivo Sumario, pp 8-29, em: Heinrich Denzinger, Peter Hünermann, El Magisterio de La Iglesia Enchiridion Symbolorum Definitionum et Declarationum de Rebus Fidei et Morum, Version castellana de la 38ª edición alemana, Segunda edición corregida: julio de 2000, Empresa Editorial Herder, S.A., Barcelona. 


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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O Papa Francisco não casou ninguém

A notícia do dia é: "Papa Francisco casa dois assistentes de bordo durante um vôo". Qual é o problema com este título? É que o Papa Francisco, mesmo sendo Papa, não pode casar ninguém.

Chama-se ministro de qualquer um dos 7 sacramentos a quem administra o sacramento, quem faz com que o sacramento se realize de facto. O sacerdote é o ministro da Eucaristia, é ele que faz com que aqueles gestos e palavras sejam realmente uma Missa: que seja renovado o Sacrifício da Cruz, e que o pão e o vinho se transubstanciem em Corpo e Sangue de Cristo. Quem não tiver sido ordenado sacerdote pode fazer exactamente os mesmos gestos e dizer as mesmas palavras que diz o sacerdote mas não existirá Missa nem Corpo de Cristo; antes será uma simulação de sacramento, um delito gravíssimo que implica a excomunhão latae sententiae.

No sacramento do matrimónio o ministro não é o sacerdote, nem o bispo, nem o Papa mas sim os esposos, como explica o Catecismo da Igreja Católica:

«1623. Segundo a tradição latina, são os esposos quem, como ministros da graça de Cristo, mutuamente se conferem o sacramento do Matrimónio, ao exprimirem, perante a Igreja, o seu consentimento. Nas tradições das Igrejas orientais, os sacerdotes que oficiam – Bispos ou presbíteros – são testemunhas do mútuo consentimento manifestado pelos esposos, mas a sua bênção também é necessária para a validade do sacramento.»

São os esposos que se casam um ao outro. Dizer que o Papa casou alguém implica dizer que o Papa se casou com alguém. Isto é impossível porque o Papa tem o impedimento da Ordem (é Bispo), mesmo que tentasse casar não conseguiria. Um Bispo nunca recebe a dispensa do celibato, e mesmo que recebesse apenas poderia ser conferida pelo...Papa. Estamos perante uma impossibilidade lógica.

Então, se são os esposos que se casam por que razão está lá um sacerdote (ou neste caso o Papa)? O sacerdote é o ministro da Igreja (não do sacramento do matrimónio), é a testemunha qualificada que ali está em nome da Igreja, para pedir e receber o consentimento por parte dos noivos, como explica o Catecismo:

«1630. O sacerdote (ou o diácono), que assiste à celebração do Matrimónio, recebe o consentimento dos esposos em nome da Igreja e dá a bênção da Igreja. A presença do ministro da Igreja (bem como das testemunhas) exprime visivelmente que o Matrimónio é uma realidade eclesial.»

Resumindo: Os sacerdotes não casam ninguém, são os noivos que se casam um ao outro, são eles os ministros do sacramento do matrimónio. O sacerdote é um representante da Igreja que está ali para garantir que foi dado o consentimento e que houve mesmo casamento.

João Silveira


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O Relatório Final do Sínodo Extraordinário dos Bispos de Outubro de 1985 sobre o Concílio Vaticano II (1ª parte)

Já desde há muitos anos se tem falado e escrito sobre o Concilio Vaticano II (1962-1965) (CV II): sobre os seus antecedentes próximos e até remotos; as suas virtudes; as suas ambiguidades; as deficiências e dificuldades na sua aceitação; enfim, as suas sequelas e, the last but not the least, o modo correcto de o interpretar, ou seja, a sua hermenêutica.

Ficou já para os anais da história conciliar, o discurso à Cúria romana que o Papa Bento XVI fez a 22 de Dezembro de 2005 (1), com a tipificação da hermenêutica conciliar em dois modos contrários: a da «hermenêutica da descontinuidade e da rotura» e a da «hermenêutica da reforma, da renovação na continuidade»; assim como a “lição” proferida ao Clero de Roma, sobre alguns dos mais significativos documentos do Concílio, no seu último encontro com eles, enquanto Papa, no dia 14 de Fevereiro 2013 (2), apenas a duas semanas da sua resignação efectiva.

Um dos temas maiores, entre tantos outros, sobre o qual o CV II se debruçou, foi o da «Constituição Hierárquica da Igreja e Em Especial o Episcopado», no qual, é sabido, trabalhou então como teólogo perito, o Padre Joseph Ratzinger. Tema esse que constitui o Capitulo III da «Constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium» (LG). Neste Capítulo III da LG, ficaram promulgados para além dos aspectos relacionados com a sucessão dos doze Apóstolos; o pensamento da Igreja sobre o Colégio dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, e a sua Cabeça (o Papa); os poderes do Romano Pontífice; os poderes e as relações entre os próprios Bispos; as relações do Papa no e com o Colégio dos Bispos; a reafirmação da infalibilidade «na definição de doutrinas de fé ou costumes» de que goza o Papa, enquanto Cabeça do Colégio dos Bispos, assim como daquela de que é também possuidor o «colégio episcopal, quando este exerce o supremo magistério em união com o sucessor de Pedro» (LG, 25).

Da maior relevância para a história da redacção e correcta interpretação daquele Capítulo III da LG, há que referir que todo ele, foi objecto de uma célebre «Nota Explicativa Prévia», da Comissão Doutrinal do Concílio, comunicada «por autoridade superior» (sic, leia-se a mando de Paulo VI), em meados de Novembro de 1964, a dias da votação final da Constituição LG, onde se declarava que «é segundo o espírito e o sentido desta nota que se deve explicar e entender a doutrina exposta nesse capítulo terceiro» (3).

É nesta Nota que se detalha, «por autoridade superior» (sic), o entendimento a fazer sobre o que é o Colégio dos Bispos; como uma pessoa se torna seu membro; e qual a relação dos poderes do Sumo Pontífice «só» e em união com o próprio Colégio dos Bispos do qual é a Cabeça (4).

Em suma: a Nota de facto pretendeu enfraquecer uma interpretação demasiado generosa do alcance da noção de colegialidade e destacava a plenitude de poder de que sempre goza o Papa sozinho, enquanto Sucessor de Pedro.

Passados vinte anos - ia o Papa João Paulo II a cerca de um quarto do que seria o seu longo pontificado - realizou-se o segundo Sínodo Extraordinário dos Bispos, em Outubro de 1985, para «celebrar, verificar, [e] promover o Vaticano II». No final, os Bispos elaboraram o «Relatório Final» (RF), do qual só agora eu vim a tomar conhecimento, através de uma versão em Inglês (5).

Constatei que nenhuma versão deste Relatório, em que língua seja, consta do sítio internet do Vaticano, nem mesmo do sítio institucional específico dedicado ao Sínodo dos Bispos. Ao que me parece, naquele tempo era essa a regra: o Relatório Final dos Bispos, assim como as propostas a fazer ao Papa, eram endereçados exclusivamente ao Santo Padre, não sendo dado a conhecer ao público, ao contrário do que tem acontecido já desde Bento XVI. Para já, recordemo-nos de que foi decorrente do expresso pedido dos Bispos neste Sínodo Extraordinário de 1985, que se deveu a redacção do Catecismo da Igreja Católica, promulgado por João Paulo II em 1992, assim como o respectivo Compêndio, aprovado e publicado por Bento XVI em 2005.

Trinta anos depois daquele Sínodo Extraordinário de 85, ao comemorar o cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos pelo Papa Paulo VI  – de facto, a relevante expressão institucional perpétua da Colegialidade dos Bispos – o Papa Francisco fez um importante Discurso, em Outubro de 2015, no decurso do segundo Sínodo sobre a família, onde se deteve sobre a sinodalidade, isto é, nas suas palavras, o «caminhar juntos – leigos, pastores, Bispo de Roma»; sendo o Papa muito claro na sua intenção:

«Devemos continuar por esta estrada. O mundo, em que vivemos e que somos chamados a amar e servir mesmo nas suas contradições, exige da Igreja o reforço das sinergias em todas as áreas da sua missão. O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio» (6).

Não tardaram recensões deste discurso de Francisco, algo triunfantes, onde se louvavam os benefícios do «caminhar juntos» e da similitude entre a Igreja e o Sínodo e onde se revigora a implementação da colegialidade, como, por exemplo, a de um site brasileiro (7), no qual, dias depois, até se ousou, abusivamente, proclamar o seguinte grito que mais parece de vingança:

«Pois bem, o Papa Francisco pôs fim, em um único discurso, à Nota explicativa praevia de 1964 e às conclusões do Sínodo de 1985» (8) (negritos no original).

Quanto à referida Nota, já vimos atrás o que Paulo VI, com a sua autoridade, pretendeu explicar e sublinhar; e veremos mais adiante que o seu teor foi claramente reafirmado no RF de 1985. Numa 2ª parte deste meu artigo (9), veremos algumas das conclusões do Sínodo de 1985, às quais, segundo aquele articulista, o Papa Francisco terá alegadamente posto fim, o que não é verdade.

E com esta e outras atitudes tendenciosamente “iconoclastas” podemos confrontar as acusações que - numa outra perspectiva bem diversa, ainda que também de rotura, se têm intensificado mais recentemente em artigos e blogs - produzidos também contra uma correcta interpretação do Concílio e em desfavor dos Papas que o receberam, nomeadamente João Paulo II e Bento XVI, acusando-os de influências modernistas e por aí fora; sem terem em conta o que João Paulo II pretendeu com o Sínodo Extraordinário de 85, como é patente no RF respectivo, nem muito presente a documentada mudança de perspectivas que Joseph Ratzinger foi de facto assumindo desde que foi teólogo perito no Concílio até ao seu actual estatuto inédito de Papa Emérito. Quanto a este, basta ler o modo como o próprio Bento XVI se refere à sua participação no Concílio e aos seus efeitos, no recente livro-entrevista Últimas conversas com Peter Seewald, particularmente o capítulo da segunda parte intitulado justamente O Concílio: entre sonho e traumatismo (10.).

De facto, a referida contraposição de perspectivas e interpretações da história e dos documentos do Concilio Vaticano II, só vem acentuar (ou, finalmente clarificar?, só o futuro o dirá) a cada vez mais notória confusão que cresce actualmente na Igreja e que só não é vista ou admitida por quem tem dificuldades em lidar com graves situações de conflito; mas também por medo ou, porventura, devido a uma “prudente” gestão das relações de poder clerical...

Efectivamente, o Sínodo Extraordinário de 1985, já por aqueles anos, colocava-se numa posição de justo equilíbrio na análise do Concílio e dos primeiros vinte anos dos efeitos que se lhe seguiram, percorrendo um processo de recepção que João Paulo II procurou, digamos, regularizar numa «perspectiva interpretativa oficial, autorizada e normalizante» (sic) - como escreveu, num longo e clarificador artigo, um Professor da Universidade Católica de Minas Gerais, cuja leitura me permito recomendar (11).

Avancemos então para algumas significativas passagens do Relatório Final (RF) de 1985. Ele é constituído por duas partes fundamentais: na I, afirma-se o Tema Central deste Sínodo – Celebração, Verificação, Promoção do Vaticano II; na II, debruça-se sobre alguns Temas Particulares do Sínodo – o Mistério da Igreja, as Fontes da vida para a Igreja, a Igreja como Comunhão (e neste, particularmente sobre o tema quente da Colegialidade), a Missão da Igreja no Mundo (e aqui, detém-se sobre o significado da célebre noção de “Aggiornamento” (12), assim como da Inculturação).

Como é costume nos Relatórios finais, ao final de cada uma das diversas partes e temas, surgem as propostas dos Bispos ao Papa. Tanto quanto me foi possível investigar, deste Sínodo não resultou nenhuma Exortação Apostólica Pós-sinodal de João Paulo II; os frutos mais notórios e de maior impacto foram, como já atrás referi, o Catecismo e o respectivo Compêndio. E não é certamente pouco: penso até que podemos dizer, hoje, que a sua necessidade e oportunidade se têm manifestado autenticamente proféticas.

Aqui vão então e sem comentários, nesta 1ª parte do meu artigo, já alguns excertos do RF de 1985 que efectivamente me parecem muito oportunos divulgar, perante o contexto eclesial actual (com tradução para português da minha responsabilidade, a partir da referida versão em inglês):

I. O Tema Central deste Sínodo: Celebração, Verificação, Promoção do Vaticano II

«Celebrámos em unanimidade o Concílio Vaticano II como uma graça de Deus e um dom do Espírito Santo, ao qual se seguiram muitos frutos espirituais para a Igreja universal e para as Igrejas Particulares, assim como para o homem do nosso tempo. Também verificámos unanimemente e com alegria que o Concílio é uma expressão legítima e válida; e uma interpretação do depósito da fé, tal como se encontra na Sagrada Escritura e na tradição viva da Igreja» (RF, I,2).

«A larga maioria dos fieis recebeu o Concílio Vaticano II com zelo; uns poucos aqui e além, mostraram resistência ao mesmo» (RF, I,3).

«Seja como for, embora grandes frutos tivessem brotado do Concílio, ao mesmo tempo reconhecemos, com grande sinceridade, deficiências e dificuldades na aceitação do mesmo. Na verdade, certamente também houve sombras no período pós-conciliar, em parte devido a uma incompleta compreensão e aplicação do Concílio, em parte devido a outras causas. Todavia, de maneira nenhuma pode ser afirmado que tudo o que aconteceu depois do Concílio foi por este causado» (RF, I,3).

«Entre as causas internas [das dificuldades] devem-se notar uma leitura parcial e selectiva do Concílio, assim como uma interpretação superficial da sua doutrina num sentido ou outro. Por um lado, houve decepções porque fomos muito hesitantes na aplicação da verdadeira doutrina do Concílio. Por outro lado, devido a uma leitura parcial do Concílio, foi feita uma apresentação unilateral da Igreja, como uma estrutura puramente institucional, esvaziada do seu Mistério» (RF, I,4).

«De quando em quando, também houve um descuido no discernimento dos espíritos, faltando distinguir correctamente entre uma legítima abertura do Concílio ao mundo e a aceitação da secularização de uma mentalidade mundana e da ordem dos valores» (RF, I,4).

«A interpretação teológica da doutrina conciliar deve prestar atenção a todos os documentos, em si mesmos e nas suas inter-relações, de tal modo que o significado das afirmações do Concílio – frequentemente muito complexos – possa ser entendido e expresso. Uma especial atenção deve ser prestada às quatro Constituições do Concílio, as quais contêm a chave interpretativa dos outros Decretos e Declarações. Não é lícito separar o carácter pastoral do vigor doutrinário dos documentos. Da mesma maneira, não é legítimo separar o espírito da letra do Concílio. Além do mais, o Concílio deve ser compreendido em continuidade com a grande tradição da Igreja e ao mesmo tempo nós devemos receber a luz da doutrina do próprio Concílio para a Igreja de hoje e para o homem do nosso tempo. A Igreja é uma e a mesma através de todos os Concílios» (RF, I,5).

18 de Janeiro de 2018, 1º dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

João Duarte Bleck, médico e leigo Católico

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Referências (da 1ª parte)

 3. cf. pp. 114-116, Concílio Ecuménico Vaticano II – Constituições, Decretos, Declarações e Documentos Pontifícios, 10ª edição, Editorial AO, Braga, 1987.
 4. cf. Idem.
 9. A 2ª parte será publicada em breve tempo.
 10. A edição que li deste livro, foi a seguinte tradução em Francês: Benoît XVI, Dernières conversations avec Peter Seewald, traduit de l’allemand par Odile Demange, Librairie Arthème Fayard, septembre 2016, pp 143-167. Muito reveladora é a longa e documentada pergunta de Seewald onde este começa por afirmar: «A sua posição sobre o tema Concílio evoluiu progressivamente» (p 165), à qual o Papa Emérito começa por responder: «Eu teria tendência a responder que sim» (p 166). Livro a ler obrigatoriamente por quem pretenda perceber melhor este génio da Igreja das últimas décadas, assim como o que foi o desenrolar do Concílio e o período posterior da sua recepção e aplicação.
 11. Rodrigo Coppe Caldeira, O pontificado de João Paulo II e a herança do Concílio Vaticano II: em busca de uma interpretação normalizante, in Revista Brasileira de História das Religiões, ANPUH, Maringá (PR) v. V, Edição Especial, Janeiro 2013, pp 155-173.
 12. Aggiornaménto: esta palavra italiana, significa actualização, modernização, o processo de pôr em dia (cf. Dicionário de Italiano-Português, 3ª edição, Porto Editora, 2009).


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