domingo, 17 de julho de 2016

Missa nova do Pe. Tiago Fonseca - Igreja de S. Nicolau

Homilia da Missa nova – «Uma só coisa é necessária»
16 de Julho de 2016
Uma só coisa é necessária!
Queridos irmãos e irmãs, permitam-me começar assim esta homilia de Missa nova.
A Palavra de Deus que hoje escutamos, quer na primeira leitura quer no Evangelho, convida-nos a meditar sobre a hospitalidade para com Deus que nos visita. Esta passagem do Evangelho é bem conhecida de todos, e são muitas as Martas aqui presentes a quem já lhes foi dito: “Marta, Marta… andas inquieta e preocupada com muitas coisas…” E são muitos os irmãos mais novos aqui presentes que parecem fugir às tarefas domésticas, com desculpas como a de Maria. Eu próprio tenho uma irmã mais nova e ela ajudava tão pouco em casa… mas esta homilia não é para denunciar os seus pecados nem os meus!

Vamos ao que interessa: Uma só coisa é necessária!
Nesta passagem do Evangelho, Jesus vai a passar por um povoado e entra em casa de Marta e Maria. Trata-se de uma iniciativa de Jesus! Na relação com Deus, é sempre Ele que vem ao encontro de nós, homens. E também aqui é assim: Jesus, o Filho de Deus, vem ao encontro destas duas irmãs na sua casa. Jesus não espera ser encontrado no Templo, mas é o próprio Filho de Deus que se põe em movimento, que visita Marta e Maria, onde elas estão. É Jesus, o Filho de Deus, que lhes bate à porta (cf. Ap 3,20). É Deus que faz este movimento e bate à nossa porta também. E poderíamos perguntar: onde nos encontramos hoje? E porque quer Deus entrar em nossa casa? Porque bate à nossa porta?

Deus bate à nossa porta porque quer ser acolhido por nós (cf. Jo 1,11) e quer responder ao desejo infinito que vai no nosso coração, no coração de cada homem e cada mulher (cf. Jo 2,24). Jesus conhece a nossa inquietação (cf. Lc 10,41), conhece a nossa sede de mais, conhece a nossa insatisfação, conhece o nosso desejo de plenitude. Jesus, o Filho de Deus, vem ao nosso encontro porque nos ama e sabe que uma só coisa é necessária: só Deus basta, só Ele nos basta. E Jesus, na Sua misericórdia, vem assim visitar-nos para nos dar este descanso nEle. Já S. Agostinho dizia: “Criaste-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração inquieto não descansa enquanto não repousa em Vós”.

Porém, Jesus não força a entrada em nossa casa. Jesus leva a sério a nossa liberdade, condição essencial para o amor e a verdadeira amizade com Deus, amizade pela qual fomos criados. Por isso, é preciso livremente deixarmos Deus entrar, «abrir as portas a Cristo»! Por isso, gritamos como Abraão: «Senhor, não passeis sem parar em casa do vosso servo» (cf. Gn 18,3). Jesus vai a passar e é acolhido por Marta e Maria. A hospitalidade de Marta e Maria revela-se na porta aberta, no desejo de acolher Deus vivo. Peçamos a Deus que aumente em nós este desejo porque…
Uma só coisa é necessária!

Neste acolhimento, observamos duas linhas de comportamento. Por um lado, Marta acolhe Jesus procurando servi-Lo com todos os cuidados da casa. Por outro lado, Maria fica sentada aos pés de Jesus, ouvindo a Sua Palavra. Jesus não desvaloriza os cuidados da hospitalidade de Marta, bem pelo contrário. Mas Jesus percebe como ela não está ainda a gozar a Sua companhia plenamente. Marta está inquieta e preocupada, está dispersa pelo activismo. E por isso Jesus diz:
Uma só coisa é necessária!

Nesta visita de Jesus, Ele convida-nos a reordenar as prioridades da nossa vida. Jesus vem à nossa casa, mais ou menos arrumada, lembrar-nos que Deus está aí. E que o lugar de Deus na nossa vida tem de ser o primeiro, o lugar central, o lugar que dá unidade a tudo o resto que somos e fazemos. Trata-se de reconhecer que Deus é Deus absolutamente: trata-se de deixar Deus ser Deus na nossa vida concreta. Isto passa por acolher aquela exortação de Jesus no sermão da montanha: «o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã…» (Mt 6,32-34). Confiar em Deus, confiar tudo, confiar sempre: assim se manifesta a plena hospitalidade a Deus na nossa vida, hospitalidade que na verdade nos liberta para as pequenas e grandes tarefas diárias que tanto interessam também a Deus.
Uma só coisa é necessária!

E desta forma descobriremos que a nossa hospitalidade para com Deus é sempre resposta à hospitalidade primeira de Deus para connosco: é que fomos primeiro acolhidos por Deus, amados por Deus, chamados por Deus, enviados por Deus.

Permitam-me, queridos irmãos e irmãs, que partilhe convosco como fiz esta experiência de hospitalidade ao longo destes anos: a experiência de ter sido acolhido por Deus que me chamou a viver no seio de uma família numerosa e alegre, e também no seio da Sua Igreja. Mais tarde, a experiência de ser acolhido gratuitamente, «senza pagare», no coração da Igreja em Roma e já depois no Seminário, chamado a ser discípulo de Jesus em vista ao discernimento da Sua vontade para mim. E aí recordo um episódio com o saudoso Pe. Ricardo que do Céu nos acompanha: um dia bati à porta do seu gabinete e disse-lhe: «Pe. Ricardo, estamos aqui no seminário sem fazer nada de especial neste tempo… e se fossemos bater às portas das casas vizinhas a anunciar Jesus?» E ele respondeu-me com sabedoria: «Rapaz, mais do que acção exterior, tu agora precisas é de acção interior, precisas de tempo para estar com Jesus».
Uma só coisa é necessária!

Estar com Jesus, crucificado e ressuscitado! Ele é a melhor parte, que já temos e que nunca nos será tirada, que gozaremos plenamente no Céu, quando O virmos face a face. Com Jesus fui descobrindo como Ele conhece bem aqueles que chama e ama e como é Ele que nos torna capazes para a missão que nos confia na Igreja. Cada vocação «é dom e mistério», é obra de Jesus, em vista de todos, para bem de todos. Assim, a relação com Jesus compromete-nos com todos, uns com os outros. E ouvimos noutra passagem Jesus a dizer-nos: «Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós» (cf. Jo 13,15). Assim como Jesus veio ao nosso encontro para nos manifestar e dar Deus, somos agora chamados a partir ao encontro dos outros, para dar Deus a todos. O mundo precisa de Deus e precisa hoje de quem anuncie Deus.
Uma só coisa é necessária!


E vamos com confiança e esperança, pois «Cristo está no meio de nós» (cf. Col 1,27) e nós, na nossa pequenez e fraqueza, O anunciamos com alegria sabendo que «Deus, pelo poder que exerce em nós, é capaz de fazer mais, imensamente mais do que possamos pedir ou imaginar. Glória a Ele, na Igreja e em Cristo Jesus» (cf. Ef 3,20-21). Queridos irmãos e irmãs: Uma só coisa é necessária! Amen.


blogger

1 comentário:

Anónimo disse...

Desejo que coloque sempre em prática a sua homilia, e que quando lhe baterem porta, cada pessoa possa lembrar que Deus está aí. Que a hospitalidade para com o próximo seja a de Deus; Ele é sempre a melhor parte, mas geralmente o que dão, muitos sacerdotes, é mesmo a pior… Então que como Ele lhe fez, “assim façais também vós”