quinta-feira, 30 de junho de 2016

O Brexit e o ocaso do Ocidente

O referendo inglês de 23 de Junho (Brexit) carimba o colapso definitivo de um mito: o sonho de uma “Europa sem fronteiras”, construída sobre a ruína dos Estados nacionais.
O projecto europeísta, lançado com o Tratado de Maastricht de 1992, continha as sementes de sua auto-dissolução. Era completamente ilusório querer realizar uma união económica e monetária antes de uma união política. Ou, pior ainda, imaginar servir-se da integração monetária para impor a unificação política. Porém, tanto e ainda mais ilusório era o projecto de chegar a uma unidade política extirpando as raízes espirituais que unem os homens em torno de um destino comum.

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, aprovada pelo Conselho Europeu em Nice, em Dezembro de 2000, não só elimina todas as referências às raízes religiosas da Europa como constitui uma negação visceral da ordem natural cristã. O seu artigo 21º, introduzindo a proibição de discriminação relativa à “orientação sexual”, contém, em potência, a legalização do pseudo-casamento "homossexual" e a criminalização da “homofobia”.

O projecto de “Constituição”, elaborado entre 2002 e 2003 pela Convenção sobre o futuro da Europa, foi rejeitado por dois referendos populares, um em França, a 29 de Maio de 2005, e o outro nos Países Baixos, três dias depois. Mas os eurocratas não desistiram. Após dois anos de “reflexão”, a 13 de Dezembro de 2007, foi aprovado pelos Chefes de Estado e de Governo da União Europeia o Tratado de Lisboa, que deveria ser ratificado exclusivamente por via parlamentar. A Irlanda, o único país obrigado a expressar-se por meio de referendo, rejeitou o Tratado a 13 de Junho de 2008. Mas como era necessária a unanimidade dos Estados signatários, foi imposto aos irlandeses um novo referendo, que, graças à fortíssima pressão económica e mediática, deu finalmente resultado positivo.

Na sua curta vida, a União Europeia, incapaz de definir uma política externa e de segurança comum, transformou-se numa tribuna ideológica, produzindo resoluções e directrizes para compelir os governos nacionais a livrarem-se dos valores familiares e tradicionais. Dentro da UE, a Grã-Bretanha, em vez de tentar travar o plano franco-alemão de um “superestado europeu”, acelerou, a fim de difundir em escala europeia as suas “conquistas civis”, do aborto à eutanásia, das adopções "homossexuais" às manipulações genéticas. Essa deriva moral foi acompanhada na Inglaterra por uma embriaguez multicultural, culminando com a eleição, em Maio de 2016, do primeiro prefeito muçulmano de Londres, Sadiq Khan.

Mas já em 2009, o então prefeito conservador, Boris Johnson, convidou todos os londrinos a participar, pelo menos por um dia, do jejum do Ramadão e entrar numa mesquita ao pôr-do-sol. Mais recentemente, o primeiro-ministro David Cameron, provocando o candidato à presidência americana Donald Trump, definiu-se como “orgulhoso por representar um dos países multi-raciais, multi-religiosos e multi-étnicos mais bem-sucedidos do mundo” (“HuffPost Politics”, 15 de Maio, 2016).

O Brexit representa certamente um sobressalto orgulhoso de um povo com longa história e antiga tradição. Mas a identidade e a liberdade de um povo fundam-se no respeito à lei divina e natural, e nenhum gesto político pode restaurar a liberdade de um país que a perde por causa da sua decadência moral.

O “não” à União Europeia foi um protesto contra a arrogância de uma oligarquia que pretende decidir, sem o povo e contra o povo, quais são os interesses do povo. Mas os poderes fortes que impõem as regras burocráticas de Bruxelas são os mesmos que desfazem as regras morais do Ocidente. Quem aceita a ditadura LGBT perde o direito de reivindicar o próprio Independence Day, pois já renunciou à sua identidade. Quem renuncia a defender as fronteiras morais de uma nação perde o direito de defender as suas fronteiras, porque já aceitou o conceito “líquido” da sociedade global. Sob este aspecto, o itinerário de auto-dissolução da Grã-Bretanha segue uma dinâmica que o Brexit não pôde parar, e da qual pode vir de facto a constituir mais uma etapa.

A Escócia já ameaça com um novo referendo para deixar o Reino Unido, seguida da Irlanda do Norte. Além disso, quando a Rainha, que tem 90 anos, deixar o trono, não é de se excluir que alguns países da Commonwealth declarem a independência. Alguém disse que a rainha Elizabeth foi coroada imperatriz do British Empire e talvez morra à frente de uma Little England. Mas este itinerário de desunião política tem como resultado final a republicanização da Inglaterra.

O ano de 2017 marca o terceiro centenário da fundação da Grande Loja de Londres, a mãe da Maçonaria moderna. Mas a Maçonaria, que nos séculos XVIII e XIX se serviu da Inglaterra protestante e deísta para difundir no mundo o seu programa revolucionário, parece hoje determinada a afundar a monarquia britânica, na qual vê um dos últimos símbolos ainda sobreviventes da ordem medieval.

Após o Brexit, cenários de desintegração podem também abrir-se no resto da Europa. Na Grécia, pela explosão da crise económica e social; em França, onde as periferias urbanas estão ameaçadas por uma guerra civil jihadista; em Itália, pelas consequências de uma irrefreável invasão migratória; na Europa Oriental, onde Putin está pronto para aproveitar a fraqueza das instituições europeias para assumir o controle do território oriental da Ucrânia e exercer a sua pressão militar sobre os Estados Bálticos.

O general britânico Alexander Richard Shirreff, ex-vice-comandante da NATO de 2011 a 2014, previu, na forma de romance (2017: War with Russia. An Urgent Warning From Senior Military Command – “Guerra em 2017 com a Rússia. Um aviso urgente do Alto Comando Militar” – Coronet, Londres 2016), a explosão de uma guerra nuclear entre a Rússia e o Ocidente, em Maio de 2017, uma data que para os católicos lembra algo. Como nos podemos esquecer, no primeiro centenário de Fátima, das palavras de Nossa Senhora, segundo as quais muitas nações seriam aniquiladas e a Rússia seria o instrumento do qual Deus se serviria para punir a Humanidade impenitente?

Diante dessas perspectivas, os próprios partidos conservadores europeus estão divididos. Se Marine Le Pen na França, Geert Wilders na Holanda e Matteo Salvini na Itália, exigem a saída dos seus países da União Europeia e confiam em Putin, bem diversas são as posições do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban e do líder polonês Jaroslaw Kaczynski, que vêem na UE e na NATO uma barreira contra o expansionismo russo.

Em 1917 foi publicado 'Der Untergang des Abendlandes' (O declínio do Ocidente), de Oswald Spengler (1880-1936). Cem anos mais tarde, a profecia do escritor alemão parece começar a cumprir-se. 'Ocidente', mais do que um espaço geográfico, é o nome de uma civilização. Esta civilização é a Civilização Cristã, herdeira da cultura clássica greco-romana que a partir da Europa se difundiu para as Américas e para as ramificações longínquas da Ásia e África. Ele teve o seu baptismo na noite do sonho de São Paulo, quando Deus deu ao Apóstolo a ordem de virar as costas à Ásia a fim de “ir para a Macedónia” anunciar a Boa Nova (At 16, 6-10). Roma foi o local do martírio de São Pedro e São Paulo e o centro da civilização que nascia.

Spengler, convencido do inexorável declínio do Ocidente, lembra uma frase de Séneca: 'Ducunt volentem fata, nolentem trahunt' (O destino guia os que lhe obedecem e arrasta consigo os que se lhe opõem). Mas à visão relativista e determinista de Spengler nós opomos aquela de Santo Agostinho que, enquanto os bárbaros cercavam Hipona, anunciava a vitória da Cidade de Deus na História, sempre guiada pela Divina Providência. O Homem é artífice do seu próprio destino e, com a ajuda de Deus, o ocaso de uma civilização pode transformar-se na aurora de uma ressurreição. As nações são mortais, mas Deus não morre, e a Igreja não tem ocaso.

Roberto de Mattei in Corrispondenza Romana

(tradução adptada de 'fratres in unum')


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terça-feira, 28 de junho de 2016

A Igreja é Santa e não pecadora - o Papa e as desculpas aos gays

A Igreja é Santa e não pecadora. Eis um ponto fundamental da nossa Fé, um ponto que muitos Católicos têm dificuldade em compreender. Quem é que o reafirmou? O Papa Francisco ontem, na viagem de regresso da Arménia.
"A Igreja deve pedir desculpa por não se ter comportado bem tantas, tantas vezes... - e quando digo "igreja" quero dizer os cristãos; a Igreja é Santa, os pecadores somos nós! - os cristãos devem pedir desculpa de não ter acompanhado tantas escolhas, tantas famílias..."
Esta resposta surgiu quando uma jornalista da Catholic News Agency perguntou ao Papa se a Igreja devia pedir desculpa à comunidade gay, após os atentados de Orlando.

Na sua resposta, o Papa desmarcou-se de um pedido de desculpas institucional por parte da Igreja. A Igreja é santa, não tem que pedir desculpas. Quem tem que pedir desculpas são os cristãos, pelas vezes em que deixam de ser Igreja.  Na verdade o Papa disse que os cristãos devem pedir desculpas não só por isso, mas por todas as outras pessoas que tratam mal. 
"Eu penso que a igreja não só deva pedir desculpa (...) a esta pessoa que é gay, que ofendeu, mas deve também pedir desculpa aos pobres, às mulheres e crianças exploradas no trabalho; deve pedir desculpa de ter abençoado tantas armas... A igreja deve pedir desculpa de não se ter portado bem tantas, tantas vezes... - e quando digo "igreja" quero dizer os cristãos; a Igreja é Santa, os pecadores somos nós! "
Logo a seguir o Papa elogiou tantas pessoas da Igreja que fazem bem o seu trabalho:
"Mas a verdade é que há tantos [que são bons]! Tantos capelães de hospitais, capelães de prisões, tantos santos! Mas estes não se vêem, porque a santidade é "pudorosa" [tem pudor], esconde-se. (...) nós cristãos temos também uma Teresa de Calcutá e tantas Teresas de Calcutá! Temos tantas irmãs em África, tantos leigos, tantos casais santos! (...)"
Mas antes de tudo isto, o Papa começou por dizer como se posiciona diante dos homossexuais. "(...) uma pessoa que tem aquela condição [de ser homossexual], que tem boa vontade e procura a Deus, quem somos nós para julgá-la?"

A prática da homossexualidade é um grave erro cometido por alguns, que os impede de aceder à graça de Deus. No entanto, não devemos pô-las de parte, discriminá-las. A Igreja deve acompanhar estas pessoas e ajudá-las na sua conversão, especialmente com a ajuda do sacramento da Confissão, fonte de Graça para quem está em pecado mortal. É certo que o Papa pensa assim, pois voltou a referir o Catecismo da Igreja Católica quando responde sobre este assunto:
"Eu repetirei a mesma coisa que disse na primeira viagem, e repito também o que diz o Catecismo da Igreja Católica: que não devem ser discriminados, mas respeitados e acompanhados pastoralmente. (...) Devemos acompanhá-la bem, segundo o que diz o Catecismo. O Catecismo é claro!"
Além disso, o Papa não hesitou em dizer que muitas vezes pessoas homossexuais, para além dos seus actos imorais relativos à sexualidade, cometem outros erros também condenáveis. Disse o Papa:
"Sim, pode-se condenar, não por motivos ideológicos, mas por motivos - digamos - de comportamento político, algumas manifestações demasiado ofensivas para os outros."
Mais uma vez, nem tudo o que os jornais dizem é verdade. O próprio Papa sofre com isto. Na mesma entrevista manifestou o seu desagrado quando os jornais disseram que a Igreja abriu as portas às diaconisas, ideia que o Papa não considerou verdade.

Nuno CB

Deixamos aqui quase toda a resposta do Papa em relação às desculpas da igreja aos homossexuais. Tradução do blog Senza. O original encontra-se aqui.
"Eu repetirei a mesma coisa que disse na primeira viagem, e repito também o que diz o Catecismo da Igreja Católica: que não devem ser discriminados, mas respeitados e acompanhados pastoralmente. Sim, pode-se condenar, não por motivos ideológicos, mas por motivos - digamos - de comportamento político, algumas manifestações demasiado ofensivas para os outros. Mas estas coisas não têm a ver com o problema: o problema é uma pessoa que tem aquela condição, que tem boa vontade e procura a Deus, quem somos nós para julgá-la? Devemos acompanhá-la bem, segundo o que diz o Catecismo. O Catecismo é claro! 
Depois há as tradições de alguns países, em algumas culturas, que têm uma mentalidade diferente sobre este problema. Eu penso que a igreja não só deva pedir desculpa - como disse aquele Cardeal "marxista" [Cardeal Marx] - a esta pessoa que é gay, que ofendeu, mas deve também pedir desculpa aos pobres, às mulheres e crianças exploradas no trabalho; deve pedir desculpa de ter abençoado tantas armas... A igreja deve pedir desculpa de não ser ter portado bem tantas, tantas vezes... - e quando digo "igreja" quero dizer os cristãos; a Igreja é Santa, os pecadores somos nós! - os cristãos devem pedir desculpa de não ter acompanhado tantas escolhas, tantas famílias... Recordo-me de menino da cultura de Buenos Aires, a cultura católica fechada - eu venho de lá! -: não se podia entrar em casa de uma família divorciada! Falo de há 80 anos. A cultura mudou, graças a Deus.
Como cristãos devemos pedir tantas desculpas, não só por isto. Perdão, e não desculpas! "Perdão, Senhor": é uma palavra que esquecemos - agora faço de pastor e faço o sermão! Não, isto é verdade, tantas vezes o "sacerdote mestre" e não o sacerdote padre, o sacerdote "que se zanga" e não o sacerdote que abraça, que perdoa e consola.... Mas a verdade é que há tantos [que são bons]! Tantos capelães de hospitais, capelães de prisões, tantos santos! Mas estes não se vêem, porque a santidade é "pudorosa" [tem pudor], esconde-se. Pelo contrário a falta de pudor é um bocadinho desavergonhada; é desavergonhada e vê-se. Tantas organizações, com pessoas boas e pessoas não tão boas; ou pessoas a quem se dá uma "bolsa" tão grande e guardam-na à parte, como as potências internacionais com os genocídios. Também nós cristãos - os padres e os bispos - fizemos isto; mas nós cristãos temos também uma Teresa de Calcutá e tantas Teresas de Calcutá! Temos tantas irmãs em África, tantos leigos, tantos casais santos! O trigo e o joio, o trigo e o joio. (...)"


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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Afogar o mal com o bem

Servir os outros, por Cristo, exige que sejamos muito humanos. Se a nossa vida é desumana, Deus nada edificará nela, porque habitualmente não constrói sobre a desordem, sobre o egoísmo, sobre a prepotência. 

Precisamos de compreender todas as pessoas, temos de conviver com todos, temos de desculpar todos, temos de perdoar a todos. Não diremos que o injusto é o justo, que a ofensa a Deus não é ofensa a Deus, que o mau é bom. 

Todavia, perante o mal, não responderemos com outro mal, mas com a doutrina clara e com a boa acção; afogando o mal em abundância de bem. 

S. Josemaria Escrivá in Cristo que passa, 182


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domingo, 26 de junho de 2016

Hoje é dia de ordenações em Lisboa


Rezemos hoje por todos os ordinandos, em especial pelo futuro Padre Senza, Tiago Fonseca:

Ó Jesus, Eterno Sacerdote, que criastes o sacerdócio católico na noite da última ceia, como expressão e fruto do Vosso imenso amor, mantende os Vossos sacerdotes sob a protecção do Vosso Sagrado Coração, onde ninguém os pode tocar.
Mantende sem mancha as suas mãos ungidas, que diariamente tocam o Vosso Sacratíssimo Corpo.
Mantende sem mácula os seus lábios, que diariamente bebem o Vosso Preciosíssimo Sangue.
Mantende puros e desinteressados os seus corações, selados com o carácter sublime do sacerdócio.
Deixai que o Vosso Santo Amor os cerque do contágio do mundo.
Abençoai os seus trabalhos com fruto abundante, e que as almas que eles cuidam e amam sejam a sua alegria e consolação aqui e a sua coroa eterna após a morte.
 
Virgem Maria, Rainha do Clero, rogai por nós: obtende-nos numerosos e santos sacerdotes. Amén.


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sábado, 25 de junho de 2016

Santificar o trabalho?




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Como tudo começou: os 3 primeiros padres do Opus Dei

A formação dos futuros sacerdotes é um tema da maior importância. Descubram porquê com esta história.

Os três primeiros sacerdotes ordenados a 25 de Junho de 1944 pelo Bispo de Madrid foram o Pe. Álvaro del Portillo, o Pe. José Maria Hernández de Garnica e o Pe. José Luís Múzquiz, todos três engenheiros.


O primeiro que S. Josemaria convidou foi Álvaro del Portillo, depois de insistir com ele na sua liberdade de decisão, estimulando na sua alma o desejo de servir: Se sentes que está disposto – dizia-lhe -, se o desejas, e não vês inconvenientes, poderás ser ordenado sacerdote, com plena liberdade; e chamo-te ao sacerdócio não por seres melhor, mas para servir os outros (1).

José Maria Hernández de Garnica, a quem chamavam familiarmente Chiqui, pertencia ao Opus Dei desde Julho de 1935.

José Luís Múzquiz, tinha pedido a admissão em 1940, embora se tivesse encontrado pela primeira vez com o Fundador em 1935, quando acabava de terminar o curso de engenharia civil. Tinha assistido a círculos de formação na Residência de Ferraz até ao começo da guerra que o apanhou numa viagem de estudo pela Europa, e em 1939 continuou a ter direcção espiritual com o fundador do Opus Dei. Por fim, num dia de recolecção, depois de ouvir a meditação pregada pelo Pe. Josemaria – como o próprio conta -, «sem que me convidasse expressamente, manifestei-lhe vontade de ser da Obra. E ele disse-me apenas – Que Deus te abençoe, é coisa do Espírito Santo. Isto passou-se no dia 21 de Janeiro de 1940» (2).
Pe. José Luís Muzquiz com S. Josemaria

S. Josemaria era o único sacerdote no Opus Dei desde 1928.

(...)

Resumindo algumas das causas e dos motivos pelos quais a Obra precisava de sacerdotes, o Fundador escreve:Os sacerdotes também são necessários para o atendimento espiritual dos membros da Obra: para administrarem os sacramentos, colaborarem com os directores leigos na direcção das almas, darem uma profunda instrução teológica aos restantes sócios do Opus Dei e – ponto fundamental na própria constituição da Obra – ocuparem alguns cargos de governo (5).

Entre a incerteza dos primeiros empenhamentos e a esperança, tangível e segura, da preparação dos três filhos seus para o sacerdócio, medeiam nada menos que dez anos de oração e mortificação. E haviam de decorrer mais quatro anos até à sua ordenação, em 1944. Anos e anos de pedidos e trabalhos insistentes.

Rezei com esperança e confiança, durante tantos anos, pelos vossos irmãos que haveriam de se ordenar, e por todos os que, mais tarde, seguiriam o seu caminho, e rezei tanto, que posso afirmar que todos os sacerdotes do Opus Dei são filhos da minha oração (7).

O Fundador insistiu muitas vezes em que a vocação ao sacerdócio não é uma espécie de “coroação” da vocação para a Obra. Pelo contrário, pela sua inteira disponibilidade para as tarefas apostólicas e pela formação recebida, pode dizer-se que todos os numerários reúnem as condições necessárias exigidas para o sacerdócio e estão dispostos a receber a ordenação sacerdotal, se o Senhor lho pedir e o Padre os convidar a servir a Igreja e a Obra dessa maneira.

Entre as resoluções que o Fundador do Opus Dei tomou em Novembro de 1941, está a seguinte: Orar, sofrer e trabalhar sem descanso até serem uma realidade na Obra os Sacerdotes que Jesus quer nela. Falar deste ponto com o nosso Bispo de Madrid, meu Pai (8).

Formação dos sacerdotes

O assunto a tratar com o Sr. Bispo de Madrid era o dos estudos eclesiásticos, que normalmente eram feitos em centros docentes oficiais, geralmente nos seminários diocesanos ou nas universidades pontifícias. Dadas as circunstâncias dos estudantes, a sua idade e cursos civis, receberiam aulas de professores particulares no centro da Rua de Diego de León; era seu Director de Estudos o Pe. José Maria Bueno Monreal que, entre 1927 e aquela altura, fora professor de Direito Canónico e Teologia Moral no Seminário de Madrid (9).

Na Primavera de 1942 estavam já os estudantes «em muito boas condições para fazerem os exames», segundo o Director de Estudos.

Quando preparei os primeiros sacerdotes da Obra, exagerei – se é possível – a sua formação filosófica e teológica, por diversas razões: a segunda, para agradar a Deus; a terceira, porque havia muitos olhos cheios de carinho postos em nós, e não podíamos defraudar essas almas; a quarta, porque havia quem não gostasse de nós, e procurasse uma oportunidade para nos atacar; depois, porque na vida profissional sempre exigi aos meus filhos a melhor preparação, e não ia fazer menos com a sua formação religiosa. E a primeira razão – uma vez que posso morrer de um momento para o outro, pensava -, porque tenho de dar contas a Deus do que fiz e desejo ardentemente salvar a minha alma (10).

Entre as fichas antigas soltas que se conservam do Fundador há dois pensamentos que têm muito a ver com esta matéria. Um deles diz: A formação sacerdotal… isso sim, tem de ser Opus Dei! E a outra: O sacerdócio recebe-se no momento da ordenação, mas a formação sacerdotal… (11). A formação abarca toda a vida. Porque a vida é progresso; e quem se detém atrasa-se, e acabará na valeta. (12).

Os três candidatos receberam a preparação pastoral para as Sagradas Ordens directamente do Padre, que teve o cuidado de os ir formando nas virtudes sacerdotais. E, no que se refere aos estudos, não fizeram as disciplinas de Sagrada Teologia no Seminário, mas no Centro de Estudos Eclesiásticos da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, com sede na Rua de Diego de León, e formalmente constituído em Dezembro de 1943 (13).

in pt.josemariaescriva.info

Notas:
1. Álvaro del Portillo, PR, p.958
2. José Luis Múzquiz de Miguel, Sum. 5791
5. Carta 14-II-1944, n. 9. Os sacerdotes não eram simples auxiliares das actividades de um grupo de leigos; sacerdotes e leigos - em cooperação orgânica – eram igualmente essenciais, como o são na Igreja; com efeito, desde o princípio que a Obra foi vista pelo Fundador como uma porção do Povo de Deus, uma pequena parte da Igreja.
7. Carta 8-VIII-1956, n. 5
8. Apuntes, n. 1854, de 9-XI-1941
9. D. José Maria Bueno Monreal conheceu o Padre Josemaria em 1927 ou 1928, na Faculdade de Direito. Interveio na preparação dos documentos para a aprovação da Obra como Pia União, como atrás se disse. Encarregou-se da direcção de estudos dos três primeiros membros do Opus Dei que receberam a ordenação sacerdotal. No final de 1945, foi nomeado Bispo de Jaca, e depois de Vitória. Em 1954, foi nomeado Arcebispo Coadjutor de Sevilha e, quatro anos mais tarde, Cardeal de Sevilha. Morreu em 1987.
10. Carta 8-VIII-1956, n. 13. «Teologia não era, pois, uma coisa extraordinária, porque com o tempo seria normal na Obra: todos os membros devem possuir a formação doutrinal religiosa conveniente. Por isso, logo a seguir começariam a estudar outros, e mais outros, sem interrupção, como sucedeu efectivamente. Tudo isto mo dizia como algo que pertencia à essência apostólica da Obra, e que era, pois, claramente de Deus» (José López Ortiz, em: Beato Josemaria Escrivá de Balaguer, un hombre de Dios. Testimonios sobre el Fundador del Opus Dei, Madrid, 1994, p. 232-233)
11. RHF, AVF-0079, de II-1944
12. A vossa formação nunca se considera acabada: durante toda a vossa vida, com uma maravilhosa humildade, precisareis de aperfeiçoar a vossa preparação humana, espiritual, doutrinal-religiosa, apostólica e profissional (Carta 6-VI-1945, n. 19)
13. A constituição do Centro de Estudos Eclesiásticos da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, com sede na Rua de Diego de León (Lagasca, n. 116), que funcionava há algum tempo como centro de estudos, foi comunicada ao Sr. Bispo de Madrid-Alcalá com data de 10 de Dezembro de 1943, isto é, dois dias depois do decreto de erecção da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz (cf. RHF, D-15140)


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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Como a Graça mudou duas vidas: à mesa com futuros padres

No próximo Domingo, dia de S. Josemaria, serão ordenados cinco novos sacerdotes para a diocese de Lisboa. Num tempo em que se ousa dizer que não há vocações, este já é um número grande. E mais surpreendente é que dois destes novos sacerdotes vêm de uma só paróquia – a Paróquia de S. Nicolau. S. Nicolau tem neste momento quase uma dezena de rapazes universitários a estudar no seminário do Patriarcado de Lisboa.

O sacerdócio é um mistério imenso, impossível de compreender totalmente na terra. São rapazes normais, iguais aos outros, que Deus escolhe para serem canais da Sua Graça no mundo. São vidas onde se vê mais claramente a Graça de Deus a actuar. Por saber isto, o Pe. Mário Rui, pároco de S. Nicolau, organizou um jantar para mais de 50 jovens universitários com os dois diáconos da paróquia. Ao longo do jantar, os futuros Pe. Marcos e Pe. Tiago, responderam a várias perguntas e explicaram como Deus se meteu nas suas vidas, como perceberam a sua vocação e como tem sido o caminho até ao dia da ordenação.

Foi uma noite verdadeiramente edificante. Todas as respostas que ouvimos serviram para elevar os corações a Deus e despertar em cada um de nós o desejo de se deixar tocar e guiar pela Graça. Como disse um dos futuros padres é preciso “deixar que Deus seja Deus” nas nossas vidas.

Um deles explicou que para contar a sua história com Deus tinha de contar a história da sua mãe. Mas para isso tinha ainda de contar outra história. Tudo começou com um americano que, nos Estados Unidos, por causa de um grande acidente, ficou vários dias inconsciente num hospital. Quando acordou, perguntou às enfermeiras o que era aquela imagem que estava na mesa do quarto. Durante o tempo que esteve inconsciente no hospital, umas freiras tinham ido lá rezar todos os dias por ele e tinham deixado uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Este senhor não era Católico, mas quis saber mais. Queria perceber quem eram estas freiras e quem era a Senhora de Fátima que aparentemente o tinha curado. 

Pista atrás de pista, decidiu apanhar o avião para a Europa e vir ao Santuário de Fátima. Quando chegou à Capelinha das Aparições caiu de joelhos e entregou toda a vida à Santíssima Virgem. Dias depois, o seu voo de regresso para casa foi cancelado e ele entendeu isso como um sinal do Céu para ficar a viver em Fátima ao serviço dos peregrinos, onde ainda hoje vive. Numa visita posterior aos Estados Unidos, no avião, ele meteu conversa com uma portuguesa. Com ousadia, contou-lhe como Nossa Senhora o tinha curado e como tinha mudado a sua vida. Ela ficou a pensar nisso e mais tarde comentou com o marido que precisavam de levar uma vida mais aberta à vontade de Deus. Uma das consequências disso foi que este casal português, que tinha decidido não ter mais filhos, acabou por ter mais. Um dos últimos filhos cresceu e já depois da universidade percebeu que Deus o chamava para ser sacerdote. Será um dos ordenados no próximo Domingo.

Depois o outro diácono contou como tinha descoberto quem era Deus e como a sua vida mudou por causa disso. Um dia na Universidade Católica foi convidado por uns amigos para ir passar fora um fim-de-semana. Era um programa igual aos outros, mas com uma diferença: também ia o capelão da universidade. Muitos jovens hoje orgulham-se da sua rebeldia por saírem à noite e por fazerem o que querem com a namorada, sem se dar conta de que estão a fazer o que todos fazem. Mas nesta viagem houve um desafio muito maior. De repente, aqueles seus amigos todos Católicos, convidaram-no a rezar o Terço na viagem. Ele achou estranho: estes rapazes eram tão simpáticos e tão divertidos, porque é que perdiam 15 minutos por dia a rezar muitas Ave Marias? O passo de dizer que sim ao Terço foi talvez um dos maiores que deu na vida. Foi assim pela grandeza de tudo o que veio com essa decisão. Nossa Senhora meteu-se na vida dele nos restantes anos da universidade e levou-o até ao sacerdócio. Um caminho que se tornará ainda maior a partir do próximo Domingo.

No final, ambos responderam que o seu maior medo era não serem capazes de corresponder à graça de Deus. Não queriam nem cortar os frutos da Graça nem esquecer-se de que Deus é que faz tudo. Por isso é que ao comentarem os vários pontificados das suas vidas, não hesitaram em referir o nome do Papa Bento XVI, com quem descobriram a sua vocação. No entanto, também referiram o seu amor e obediência ao Papa Francisco e por qualquer Papa que ocupe a Sé de Pedro. Isto viu-se claramente quando se lhes perguntou o que é que fariam se tivessem oportunidade de mudar alguma coisa na Igreja. A resposta foi particularmente forte, tendo em conta que muitos Católicos parecem opinar sem problema sobre o caminho que a Igreja deve ou não seguir. “Se me fosse concedido mudar alguma coisa na Igreja, mudar-me-ia a mim mesmo” disseram os futuros Pe. Marcos e Pe. Tiago.

Não duvido que de entre os que estavam neste jantar surjam outras vocações para o sacerdócio. Desde o tempo dos Apóstolos, Deus não pára de chamar pessoas para o Seu serviço, em particular no caminho do Sacerdócio. E será assim até ao final dos tempos.

Nuno CB

Ps: Contamos com as orações dos nossos leitores por estes dois futuros sacerdotes!


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quarta-feira, 22 de junho de 2016

Martírio de S. Tomás Moro

S. Tomás era o chanceler do Reino, um dos homens mais poderosos de Inglaterra, quando o Rei Henrique VIII declara a sua desobediência ao Papa, depois deste ter negado o pedido de anulação do seu casamento legítimo para casar com Ana Bolena. Henrique VIII decide então criar a Igreja de Inglaterra (Anglicana), da qual era o chefe supremo, um acto cismático em relação à Igreja Católica. 

S. Tomás decidiu ser fiel a Deus e à verdade, opondo-se à decisão do Rei, sendo por isso preso e decapitado. Esta é a dramatização desse momento em que morreu mártir. 

Que S. Tomás, patrono dos governantes, interceda pelos nossos políticos, para que sejam fiéis a Deus e à verdade, sem medo de assumir as consequências dessa luta heróica.




(Tradução e legendas: Raimundo Santos - railaf@yahoo.com.br)


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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Jesus aguentou pacientemente um "demónio" entre os seus

Nosso Senhor foi um modelo incomparável de paciência: aguentou um «demónio» entre os seus discípulos até à sua Paixão (Jo 6,70). Dizia Ele: «Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo» (cf Mt 13,29). Tendo a rede como símbolo da Igreja, predisse que esta traria para a praia, quer dizer, até ao fim do mundo, toda a espécie de peixes, bons e maus. E deu a conhecer de muitas outras maneiras, tanto abertamente como através de parábolas, que haveria sempre essa mistura de bons e maus. E, no entanto, afirmou que é necessário vigiar pela disciplina na Igreja quando disse: «Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão» (Mt 18,15) 

Mas hoje vemos pessoas que só tomam em consideração os preceitos rigorosos, que mandam reprimir os que causam perturbação, que ordenam que «não se dêem aos cães as coisas santas», que se «tratem como aos publicanos» aqueles que desprezam a Igreja, que se repudiem do seu corpo os membros escandalosos (Mt 7,6; 18,17; 5,30). O seu zelo intempestivo causa muita tribulação à Igreja, porque desejariam arrancar o joio antes do tempo e a sua cegueira faz deles próprios inimigos da unidade de Jesus Cristo. 

Tomemos cuidado em não deixarmos entrar no nosso coração estes pensamentos presunçosos, em não procurarmos destacar-nos dos pecadores para não nos sujarmos com o seu contacto, em não tentarmos formar como que um rebanho de discípulos puros e santos. Sob o pretexto de não frequentarmos os maus, conseguiríamos apenas romper a unidade. Pelo contrário, recordemo-nos das parábolas da Escritura, dessas palavras inspiradas, desses exemplos tocantes, onde se nos demonstra que os maus estarão sempre misturados com os bons na Igreja, até ao fim do mundo e até ao dia do juízo, sem que a sua participação nos sacramentos seja prejudicial aos bons, desde que estes não participem dos pecados daqueles.

Santo Agostinho in 'A fé e as obras', caps. 3-5


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O abuso dos ministros extraordinários da Comunhão

Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
Instrução
Ecclesiae de mysterio
acerca de algumas questões sobre a colaboração dos fiéis leigos
no sagrado ministério dos sacerdotes

Artigo 8

Para não gerar confusão, devem-se evitar e remover algumas práticas há algum tempo foram introduzidas em algumas Igrejas particulares, como por exemplo:

- o comungar pelas próprias mãos, como se fossem concelebrantes;

- o uso habitual de ministros extraordinários nas Santas Missas, estendendo arbitrariamente o conceito de «numerosa participação».



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domingo, 19 de junho de 2016

Os problemas de separar os dois fins do casamento

Fabricar crianças?

A mais evidente dessas correntes complexas é a corrente hedonista que, na união conjugal, separa o fim unitivo do fim procriativo.

Por um lado, essa corrente exalta unilateralmente certos modos de acção e de comportamentos unitivos no casal, excluindo os comportamentos procriativos. A dimensão unitiva insiste no prazer e no individualismo hedonista e utilitarista. Vejam o que acontece com a contracepção. Não há abertura ao outro, não há reconhecimento da identidade do outro, da diferença que me distingue do outro. Cada um quer fazer aquilo que tem vontade de fazer. 

Por outro lado, a dissociação, a separação entre os dois fins do casamento, escancara a porta à exaltação unilateral da finalidade procreativa, excluindo os efeitos unitivos. Considera-se então que suscitar a vida é uma questão de técnicas e que o enlace amoroso entre homem e mulher não tem nada a ver com isso. 

Esses comportamentos unitivos e essas técnicas procrativas podem eventualmente ser controlados pelos poderes públicos. No limite, corremos o risco de logo nos encontrarmos numa sociedade onde não haverá mais lugar para um amor responsável. Se for o caso, os pais serão despojados de toda autoridade, de todo direito e de todo dever diante das suas crianças. 

A dissolução voluntarista dos dois fins da união conjugal é o ponto focal tocado em 1968 pela encíclica Humanae Vitae (ver o número 12), pela exortação sinodal Familiaris Consortio (1981) e por numerosos documentos magisteriais entre os quais a instrução Donum Vitae (1987) e o estudo Família e procriação humana (2006). Se chegarmos a separar os dois fins da união conjugal, e do casamento que sela essa união, tudo pode resultar dessa dissociação provocada e radical.

Uma vez que exaltamos unicamente o fim unitivo, rapidamente chegamos a todo o género de práticas sexuais: homossexualismo, lesbianismo, fornicação, etc. Deixa de haver lugar para a fidelidade, pois o que importa unicamente é o prazer, o interesse de cada indivíduo. Esse homem deixa de ser uma pessoa, um ser capaz de se abrir livremente a uma outra pessoa; é um indivíduo que busca o seu próprio gozo.

Quando, ao contrário, se exalta unicamente o fim procriativo, chega-se a outras consequências, entre as quais, por exemplo, a procriação medicamente assistida, a gestação por terceiros, a tecnização da transmissão da vida a ponto de chegarmos à modificação genética do ser humano. O homem deixa de se fazer num lar de amor. Não há maternidade, nem paternidade; por conseguinte, não há mais filiação nem consanguinidade. Com a chegada do anunciado útero artificial não será necessário que a mulher abrigue uma criança no seu seio.

Todos esses processos são evidentemente o resultado de experiências longas e complexas. Os abortos fazem-se “necessários” para resolver os “insucessos”. Um exemplo de insucesso? A intolerável chegada de um ser que não se quer, precisamente em nome da exaltação unilateral do fim unitivo. Assim, os embriões produzidos in vitro e depois implantados serão seguidos de perto durante a sua gestação. Se se verificarem anomalias, serão abortados. Lembremos aqui que os casos em que se assinalam anomalias são mais frequentes nas fecundações in vitro do que nos casos de fecundações naturais. Por outro lado, um número excedente de embriões é “inevitável” para a experimentação com células tronco embrionárias.

Sob a pressão das ideologias hedonistas, são geradas crianças proporcionalmente aos prazeres dos parceiros, às necessidades da sociedade, tais como estas são definidas pelos “sábios”, por economistas, por demógrafos, por políticos ou por tecnocratas com forte impregnação ideológica. A seleção está inscrita nessa tecnização; está na lógica da ideologia liberal selecionar: o produto deve ser impecável, se não será enviado ao descarte. Conhecemos a seleção racial; aqui o que conta, é a seleção política, económica, a qualidade do produto fabricado. O homem e a mulher alienam-se: transferem para máquinas e para incubadoras a fabricação de crianças. Eventualmente a criança, o produto fabricado, poderá ser comprado, vendido ou escolhido em catálogo.

Assim como deve haver o aborto “seguro”, deverá também haver a procriação “segura”. É preciso “libertar” a mulher da sua capacidade de procriar porque a procriação natural é muito arriscada. Actualmente, muitas mulheres não têm filhos porque a procriação é tida como não-segura.

Assim, abre-se o caminho ao prolongamento de uma vida gozosa e livre das constrições conjugais e parentais. A transmissão da vida já não se faz segundo uma perspectiva humana; obedecerá a planeamentos ideológicos. Enfim, na outra ponta da vida, teremos em breve a eutanásia de massa.

O que está em jogo no trans-humanismo

Esses são alguns dos pontos em jogo e que podemos observar nos debates actuais sobre o trans-humanismo: as novas técnicas – asseguram-nos – oferecem aos homens meios que permitem dispor dos corpos e fabricar super-homens. Desculpem a modéstia! Resumindo, assistimos à impulsão de um novo eugenismo e mais precisamente à construção de novas espécies “humanas” modificadas geneticamente e hibridificadas com máquinas. Uma tal hibridização entre o corpo vivo e a matéria morta é irreversível. Assistimos à destruição irreversível da integridade do corpo humano. Decididamente, a cultura da morte espalha-se por toda parte... 

Hoje em dia, mesmo em certos estabelecimentos hospitalares que se dizem católicos, praticam-se intervenções tais como o aborto, as procriações medicamente assistidas, as pesquisas com embriões, sem esquecer a eutanásia, etc. Quantas vozes, no laicado, no clero e no episcopado, fazem um convite a que se reconsiderem essas práticas? Diante desse mutismo, é preciso fazer valer o carácter indissociável entre os fins da união conjugal e o casamento. Com efeito, é a separação entre os dois fins que escancara a porta aos múltiplos desvios que hoje conhecemos. Os efeitos perversos da separação entre os dois fins do casamento vão muitíssimo além da esfera íntima onde essa separação tem início. Aqueles que atacam à Humanae Vitae, à Familiaris Consortio, à Donum Vitae e aos outros documentos magisteriais devem ter percebido que no ensinamento da Igreja não basta sublinhar porque é que a Igreja recusa a contracepção e o aborto, nem porque é que a Igreja recusa a ideologia do género; essa ideologia não é senão um dos avatares da dissociação de que tratamos. É preciso então colocar em evidência que uma vez admitida a separação entre os dois fins da união conjugal, abrem-se sem nenhuma rede de segurança todas as possibilidades oferecidas pelas técnicas e asseguradas pelo "direito".

Quanto àqueles que, na Igreja, batalham para que esse cisão seja admitida, devem saber que correm o risco de provocar um cisma do qual deverão prestar contas a Deus e aos homens.

O Terror, ontem e hoje

A discussão aqui travada não diz respeito unicamente aos cristãos de hoje e aos seus adversários. As correntes individualistas que se encontram na origem dos desvios que acabamos de evocar, desenvolveram-se inicialmente em Inglaterra, sempre líder intelectual nessas matérias, depois nos Estados Unidos, estrategistas do eugenismo mundial e país onde os médicos fazem morrer, sem que isso suscite discussão. Em igual medida, essas correntes difundiram-se a partir da Alemanha. Recordemos que foi nesse país que se difundiram e foram postas em prática as ideologias celebrando o racismo e o eugenismo, bem como a eutanásia.

Ora, essas mesmas correntes desenvolveram-se sobretudo na França a partir do 'século das luzes'. É a partir de França que se forma, se desenvolve e se exporta uma poderosa corrente exaltando o indivíduo, o “sujeito”, a sua razão, a sua liberdade, o seu direito ao prazer, as suas paixões. A França tornou-se a portadora mundial da tocha da laicidade republicana. Segundo diferentes impostações, a religião revelada é rejeitada. O homem progride, garantem-nos, apoiando-se tão somente na sua razão e na sua experiência; deve-se dar lugar à religião civil ou ao ateísmo. As paixões devem estar ordenadas à maximização do leque de voluptuosidades. O direito ao prazer erótico, levado certas vezes ao paroxismo do direito à destruição, é reivindicado e confortado pela rejeição de Deus. 

Ora, após ter-se matado Deus ou agindo como se Deus não existisse, torna-se difícil encontrar o fundamento do direito. É essa uma das maiores dificuldades do iluminismo, versão francesa. Desde o século XVIII, uma frasção significativa e actuante da intelligentsia francesa esforçou-se, em nome da liberdade, de dar ao Terror um lugar na vida pública. Com uma obstinação acachapante, os manuais de história politicamente correctos transmitem de geração em geração a vulgata revolucionária.

Não obstante, impõe-se uma revisão dessa vulgata, ainda que essa revisão seja perturbadora. Os meios de comunicação social e a opinião pública ergueram-se recentemente , e com razão, face às decapitações e outros actos de barbárie ocorridos na área de influencia do Islão integrista. Porém, é desonesto ocultar, como se faz nas arengas politiqueiras e nos manuais escolares, que foram os senhores da guilhotina a guilhotinar em série e a exportar a sua técnica aprimorada. Esse desvio cruel observa-se ainda hoje. Orgulhosos da sua ascendência voltairiana, as forças da laicidade agitam como lúgubre troféu a marca de 200.000 abortos por ano em França. O terrorismo revolucionário instalou-se de modo duradouro, em nome da liberdade. Querendo ir muito além do necessário, a França não deixa passar a ocasião de se auto-proclamar “Pátria dos Direitos do Homem”, um erro histórico grosseiro mas útil à causa de um messianismo arrogante.

A questão do mal, hoje

Na actual situação, a questão do mal coloca-se como jamais se colocara antes. É verdade que há tentativas notáveis de se analisar o mal tal como se apresentou nas grandes ideologias totalitárias do século XX. Frequentemente se invocou uma perturbação da razão. Mas hoje, em nome de uma perversão da verdade, desde já desnorteada, somos confrontados com uma tentativa sem precedentes na história da humanidade: aquela de destruir a própria humanidade, de destruir a capacidade que o homem tem naturalmente, ou seja, a capacidade de amar. A recusa de tomar consciência do plano de Deus para o homem! Essa destruição leva por fim à destruição do corpo do homem pela destruição irreversível da sua integridade genética. É o maior drama da história da humanidade.

Não há muito tempo, Hilary Clinton pediu a ONU que o direito ao aborto fosse proclamado à escala universal. Vejam a perversão que espreita o direito: como podemos reduzir um ser humano a um objecto do qual se pode dispor até a destruição? Um ser humano é para ser acolhido, respeitado: não é objecto de um direito; os juristas dizem que ele não está disponível. Eu tenho direito de comprar pão, um automóvel ou uma casa. Mas não tenho direito, eu que sou um ser humano, de matar alguém, de eliminar outro ser humano. Ora, a partir da dissociação entre os fins não importa o que passa a ser não somente legalizável, mas até mesmo legal; o próprio direito vê-se desnaturado. No torvelinho dos acontecimentos, a medicina é também pervertida, uma vez que em vez de procurar curar, melhorar a saúde, suavizar os sofrimentos, coloca-se a serviço da morte, tanto antes quanto depois do nascimento. Na Bélgica, por ocasião do debate sobre a eutanásia de crianças (em 2014), legiferou-se: a lei passou sem problemas; não houve se não alguns protestos, enquanto que, o que está em jogo em todos esses debates é o próprio futuro da humanidade.

Proteger a moral natural

Todas essas questões novas não podem ser resolvidas por uma casuística como esta aqui: “Em tal caso pode-se abortar, em tal caso não se pode; em tal caso se pode praticar eutanásia, em tal outro não”. Limitamo-nos a decidir casos pontuais de consciência sem nos referirmos aos princípios fundamentais da moral. Essa casuística é de certo modo precursora da moral de situação. O que é preciso é ir verdadeiramente à origem do problema e reencontrar, na destruição dos fins do casamento, as raízes da acção de Satanás, hoje, na história da Humanidade e no coração dos homens.

Convém ainda acrescentar uma reflexão a propósito da casuística que viemos de mencionar. A Igreja se encontra em uma situação espantosa. Altos prelados, vindos sobretudo das nações opulentas, empenham-se em introduzir modificações na moral cristão referente aos divorciados-recasados e a outras situações problemáticas das quais algumas delas foram citadas aqui. Esse Guardiões da Fé não deveriam contudo perder de vista que o problema fundamental colocado pela destruição dos dois fins do casamento é um problema de moral natural. É no plano natural que o homem e a mulher são chamados a unirem-se, para testemunharem o afecto, e para procriarem. É essa a realidade natural que o Senhor elevou à dignidade de um sacramento. Diante das potencias que abalam actualmente a família, a Igreja deveria descobrir a sua vocação de ser a única instância à altura de salvar a sexualidade humana e a instituição natural do casamento e da família. 

 Não se trata apenas de salvar a moral cristã; é preciso salvar e proteger a moral natural. Não é possível que, por meio de procedimentos casuísticos caprichosos, católicos de todos os estratos e de todas as idades contribuam para a destruição da moral natural. Os grandes desvios surgiram quando certos intelectuais católicos começaram a dizer e a escrever: “Sinal verde para o aborto, para as uniões entre pessoas do mesmo sexo, para a eutanásia, etc...”. Ora, a partir do momento em que os católicos seguem este caminho fatal, contribuem para a destruição da instituição natural do casamento. É toda a comunidade humana que se vê cindida com essa nova “traição dos clérigos”.

Vale a pena levantar aqui uma questão chave: o Magistério da Igreja é competente para modificar a moral natural? Uma redução da moral natural a uma moral puramente casuística leva certos teólogos e certos pastores a equacionar a redução do direito fundado na natureza do homem. Por ocasião de um processo recente e muito divulgado nos meios de comunicação social, comentou-se repetidamente que o direito nada tinha a ver com a moral. A partir daí, não há direito se não o direito puramente positivo, originário da vontade isolada do legislador. Nesse ultimo caso, já não há direito que seja inato ao homem pelo simples facto de ser homem. Não há se não os direitos definidos pelas instâncias politicas nacionais, internacionais e mundiais. É de se ter calafrios pensar que a generalização de um direito assim prenunciasse a instauração de uma sociedade “global”, isto é mundial, teleguiada pela vontade dos mais fortes.

Resumindo, em vez de proteger a célula familiar da sua detonação, da sua fissura, o próprio direito coloca-se ao serviço da destruição da pessoa e da família. O papel do direito não é, ao contrário, proteger o núcleo conjugal, familiar e os frutos que dele decorrem, a saber, os filhos?

A recepção dos ensinamentos pontificais

O beato Paulo VI conheceu a incompreensão e rejeição quando da publicação da encíclica Humanae Vitae, encíclica que tanto o fez sofrer. Disse: “Ainda me agradecerão por ter publicado este documento”.

S. João Paulo II retomou esse ímpeto com o seu compromisso em favor dos mais pobres e dos mais vulneráveis. Daí os seus repetidos apelos para que se pusesse um fim à banalização do aborto e à sua legalização. Nas intervenções posteriores de João Paulo II, foram examinadas outras questões cruciais. O Papa aborda ali, entre outras, as politicas de controle de nascimentos, especialmente nos países do terceiro mundo. Menciona também o aumento da esperança de vida do nascituro, principal causa do envelhecimento da população, envelhecimento que por sua vez, é invocado com vistas à legalização da eutanásia. Estamos portanto diante de um conjunto de problemas emaranhados aos quais as pessoas estão mais e mais atentas, ainda que estejam frequentemente pouco ou mal informadas, como mostram as discussões nos países ocidentais sobre as adequações a serem feitas na idade da reforma.

S. João Paulo II exprimiu no rosto, no seu comportamento, na sua acção, nos seus discursos, nas suas encíclicas, com toda a sua maneira de ser que foi um mediador entre Deus e os homens. Em todos lugares onde foi, no mundo todo, foi percebido como um enviado de Deus, mesmo entre os não-cristãos. Era um ícone vivo de Deus entre os homens. Deu aos homens a confiança necessária para que as pessoas se engajassem no serviço à vida e à família. S. João Paulo II é o Papa que terá salvado a família, que terá salvado incontáveis vidas humanas com o poder da sua palavra. Desse ponto de vista, S. João Paulo II aparece no primeiro plano das figuras carismáticas da Igreja contemporânea. Tinha efectivamente um contacto extraordinário com os homens, as mulheres, as crianças de todos os meios. Mas aquilo que mais nos retém a atenção, é sua determinação em salvar a vida e a família. Ele mobilizou as pessoas e os casais suscitando-lhes a audácia de lançarem-se à aventura de serem pais, de acolherem a vida, de serem profissionais da ternura.

Será preciso que a Igreja retorne à Humanae Vitae de Paulo VI, bem como aos ensinamentos de João Paulo II e de Bento XVI sobre essas questões. O Papa Francisco permanece na trilha dos seus predecessores cada vez que sublinha a coincidência entre o Evangelho do amor e o Evangelho da alegria. Será preciso fortalecer o peso magisterial de todo esse ensinamento, colocar em relevo a sua coerência e proteger esse tesouro contra os predadores.

A conversão do coração

Não é pretendendo modificar o homem ou “melhorá-lo” por meio de técnicas arriscadas que se irão elevar os indicadores de justiça, de bem estar e de felicidade. As técnicas disponíveis actualmente lançam-se rumo a lugar nenhum; cedem o leme ao sonho. A utopia está em vias de assumir o comando do mundo mas não resultará em nada. Ela necessita da ideologia para convencer o homem da “legitimidade” da transgressão. As utopias cientificistas ou politicas de hoje não fazem senão espelhar a enésima sociedade ideal. Pretendem que para alcançar esse fim seja preciso modificar o homem ou reconstruí-lo. Sem essa modificação do homem, a construção da sociedade ideal estará bloqueada. Segundo essa lógica, os cristãos serão desprezíveis se recusarem aderir a esse projecto; devem ser perseguidos.

Ora, o homem de hoje deve libertar-se dessas armadilhas ideológicas que o confinam em novas escravidões. O que é preciso é restaurar o respeito devido ao homem. É preciso chamar o homem à conversão do coração para que possa abrir-se aos valores verdadeiros e comprometer-se no seu serviço. Essa restauração do homem implica uma etapa preliminar: é preciso desmascarar as armadilhas prometeicas e tornar manifesto o peso de pecado que elas injectam nas nossas sociedades. 

Essa reapropriação do homem por ele mesmo permite que se tomem hoje medidas em função da sociedade que se quer construir. É o que nos ensinou a prospectiva. A moral não pode mais satisfazer-se com a previsão que vê no futuro uma simples extrapolação do presente. No caso da previsão, o futuro previsto está determinado; ele escapa à responsabilidade moral. A prospectiva por sua vez, considera que esse futuro constrói-se, não é o objecto de um sonho; é ele que determina o presente e faz da decisão um acto moralmente responsável.

Levar a esperança ao mundo

Dessas novas escravidões o homem não sairá se não voltar a ser senhor de si, reafirmando a sua capacidade de discernir e decidir. Prever o futuro como mera extrapolação do presente, como o seu prolongamento, não é de modo nenhum suficiente para dar sentido à acção. Uma concepção previsionista do futuro não abre espaço algum à decisão livre e responsável, pois o futuro já está ali determinado. A moral da responsabilidade convida-nos a agir no mundo de hoje tendo em vista um mundo melhor que desejamos preparar para os jovens de hoje. 

Toda a moral referente à sexualidade humana e à família deve dirigir a sua reflexão para o longo termo. O futuro que preparamos para as gerações que virão depende da qualidade das decisões que tomamos – ou não tomamos – hoje. Os pobres e as crianças são nossos senhores. Devemos preocupar-nos com eles. Somos por eles responsáveis. Devem poder segurar a mão que lhes estendemos para levá-los da morte à vida. A prospectiva deixa um amplo espaço de livre decisão e assim de abertura aos valores hierarquizados. Ela mobiliza a vontade; convida ao compromisso; comove o coração diante de todas as misérias sobre as quais o homem, se quiser, pode agir.

Certamente todos os temas abordados pelo sínodo da família merecem ser discutidos. Mas a Igreja corre o risco de se perder ao exaltar as previsões delirantes em lugar de oferecer à sociedade humana a mensagem de esperança que o Senhor lhe confiou e que ela tem, por mandato, de levar às Nações.

Michel Schooyans (Professor emérito da Universidade de Louvain)

(Tradução: Rui A.C. Costa)


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sábado, 18 de junho de 2016

Deputado alemão ridiculariza a ideologia de género

No parlamento de Brandenburg, 'os verdes' fizeram uma proposta que exigia direitos iguais e igualdade social para os LGBTTQQ (Lesbian, Gay, Bi-sexual, Trans, Two-spirit, Queer, Questioning). O deputado do AfD, Steffen Königer, demorou 2 minutos nos cumprimentos iniciais aos presentes, dirigindo-se a 60 géneros reconhecidos hoje em dia. O resultado foram várias gargalhadas e a demonstração que a ideologia de género é um grande disparate.



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sexta-feira, 17 de junho de 2016

Os animais não podem substituir os filhos - Papa Francisco

Estes casais que não querem os filhos, que querem permanecer sem fecundidade. Esta cultura do bem-estar que apareceu há dez anos atrás convenceu-nos: ‘É melhor não ter filhos! É melhor! Assim tu podes ir conhecer o mundo, ir de férias, podes ter uma casa no campo, estás mais tranquilo’...

É melhor talvez – mais cómodo – ter um cãozinho, dois gatos, e amor vai para o cão e os dois gatos. E verdade isto, ou não? Já viram isto, não é? E no final este matrimónio chega à velhice em solidão, com a amargura da triste solidão. Não é fecundo, não faz aquilo que Jesus faz com a sua Igreja: fá-la fecunda.

Papa Francisco - Homilia na Casa de Santa Marta (02.VI.2014)


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quinta-feira, 16 de junho de 2016

A inspiração de Fulton Sheen

Alguns meses antes da sua morte, o Arcebispo Fulton J. Sheen foi entrevistado pela rede nacional de televisão: “Excelência, milhares de pessoas em todo o mundo são por si inspiradas. Em quem é que Vossa Excelência se inspirou? Foi nalgum Papa?”. 

O Arcebispo Sheen respondeu que a sua maior inspiração não foi um Papa, um Cardeal, ou outro Bispo. Nem sequer um sacerdote ou uma freira. Foi sim, uma menina chinesa de onze anos de idade. 

Explicou que quando os comunistas se apoderaram da China, prenderam um sacerdote na sua própria reitoria, perto da Igreja. O sacerdote observou assustado, da janela, como os comunistas invadiram o templo e se dirigiram ao presbitério. Cheios de ódio profanaram o tabernáculo, pegaram na píxide e, atirando-a ao chão, espalharam as hóstias consagradas. 

Eram tempos de perseguição e o sacerdote sabia exactamente quantas hóstias havia na píxide: trinta e duas. 

Quando os comunistas se retiraram, não se aperceberam, ou não prestaram atenção, a uma menina, que rezando na parte detrás da igreja, viu tudo o que ocorreu. À noite, a pequena regressou e, escapando da guarda posta na reitoria, entrou no templo. Ali, fez uma hora santa de oração, um acto de amor para reparar o acto de ódio. Depois da sua hora santa, entrou no presbitério, ajoelhou-se, e inclinando-se para frente, com a língua recebeu Jesus na Sagrada Comunhão.

A menina regressou a cada noite, fazendo sempre a sua hora santa e recebendo Jesus Eucarístico na língua. Na trigésima segunda noite, depois de haver consumido a última hóstia, acidentalmente fez um barulho que despertou o guarda. Este correu atrás dela, agarrou-a, e golpeou-a até mata-la com a parte posterior de sua arma. 

Este acto de martírio heróico foi presenciado pelo sacerdote enquanto, profundamente abatido, olhava da janela de seu quarto convertido em cela. 

Quando Fulton Sheen ouviu o relato, inspirou-se de tal maneira que prometeu a Deus que faria uma hora santa de oração diante de Jesus Sacramentado todos os dias, durante o resto da sua vida. Se aquela criança pôde dar testemunho com a sua vida da real e bela Presença do seu Salvador no Santíssimo Sacramento então, o bispo via-se obrigado ao mesmo. O seu único desejo desde então seria atrair o mundo ao Coração ardente de Jesus no Santíssimo Sacramento. 

A menina ensinou ao Bispo o verdadeiro valor e zelo que se deve ter pela Eucaristia; como a fé pode sobrepor-se a todo medo e como o verdadeiro amor a Jesus na Eucaristia deve transcender a própria vida.

Professor Felipe Aquino


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