segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Star Wars é Cristão? A Força pode estar connosco?

E
stou muito entusiasmado. O Star Wars Episódio VII está aí. Estou mesmo contente, mas sei que nem todos partilham as minhas expectativas geeks. Algumas pessoas têm sérias dúvidas teológicas em relação ao Star Wars. Hoje vamos tentar salvar o Star Wars usando um bocado de Tomás de Aquino...

Os Cristãos (tanto protestantes como Católicos)  têm mostrado durante décadas a sua preocupação de que a visão do mundo do Star Wars não encaixa com a visão Cristã. Gostava de olhar para esta preocupação e depois tentar salvar o Star Wars para todos vocês, Cristãos e fãs do Star Wars.

O erro que muitas pessoas fazem quando criticam o Star Wars tem esta lógica: 
  1. Os Cristãos têm Deus
  2. Star Wars tem a Força
  3. Mas a Força não tem nenhum paralelo na doutrina bíblica de Deus.
  4. Portanto, o Star Wars ensina uma falsa visão do mundo, uma teologia falsa, e tem que ser rejeitado como mau.
Vejamos isto com mais detalhe.

Que a Força esteja convosco: o que raio é esta Força?

Vamos começar com o que a Força não é.
  1. A Força não é um Deus pessoal a quem se reza.
  2. A Força não é infinitamente boa ou "omnibenevolente". Há um 'lado negro' da Força.
  3. A Força não é só para os bons. Os maus também a usam e aparentemente usam-na de uma forma mais poderosa que os bons.
Parece que, na verdade, a Força é uma fonte de energia impessoal. E pode-se ver rapidamente que isto não encaixa bem com uma interpretação judaico-cristã do mundo... ou será que encaixa?

Fãs cristãos do Star Wars: Não tenham medo!

Olhemos outra vez para o argumento anti-Star Wars:
  1. Os Cristãos têm Deus
  2. Star Wars tem a Força
  3. Mas a Força não se encaixa na doutrina bíblica de Deus.
  4. Portanto, o Star Wars ensina uma visão falsa do mundo e uma teologia errada, logo tem que ser rejeitado como mau!
Vamos virar isto ao contrário. Digamos que a Força passa a ser algo diferente de Deus. Talvez a Força não seja sequer uma entidade espiritual ou um ser divino. O que precisamos é de encontrar na Força uma analogia para a nossa visão Cristã do mundo.
Pausa: Eu sei que nem sequer precisamos de fazer isto. É uma saga cinematográfica de ficção que é divertida e lendária. Mas para acalmar os que querem uma justificação filosófica, aqui vai.
Há uma coisa no nosso universo que encaixa perfeitamente com a Força. Vou seguir directamente o raciocínio de S. Tomás de Aquino, por isso sigam-me.
De acordo com Tomás de Aquino (e a tradição Católica), os humanos e os seres espirituais preternaturais (os anjos e demónios) têm um poder que se estende bem mais além das faculdades de todas as outras espécies e coisas naturais. Esta faculdade especial, partilhada pelos anjos, demónios, homens bons e homens maus chama-se intelligentia. Esta palavra vem de duas palavras latinas:
inter + legere
inter significa "entre" (como internacional) e legere significa "escolher, agarrar ou ler".

A inteligência é, então, a capacidade de escolher ou discernir entre duas coisas.

Isto é um poder (ou talvez possa ser uma força) que nos foi dado a nós por Deus omnipotente. O vosso cão, gato, peixe e planta não a têm. Mas nós temos. Os vossos anjos da guarda também têm.
Visto que temos inteligência ou razão, conseguimos manipular o nosso ambiente, manipular a natureza, manipular os objectos à nossa volta e manipular outras pessoas. A nossa influência sobre a criação através do reinado da razão pode ser mesmo boa, mas também pode ter um lado negro...

As Paixões e a Força da inteligência

De acordo com Tomás de Aquino, há onze paixões. As emoções como o medo, a alegria e a ira. Devido ao pecado original, estas paixões podem interferir com a nossa inteligência racional. Comemos demasiados gelados, gritamos a outros condutores e choramos por coisas ridículas. As paixões alteram e contrariam a força da nossa inteligência, de tal modo que fazemos coisas negras.

O lado negro da Força

Percebemos que o mito da Força no Star Wars não é Deus ou o Espírito Santo, mas é antes a experiência partilhada da razão humana e angélica. É por isso que as personagens más tentam converter os personagens bons para o lado negro desta força, levando-os para uma ira, fúria, inveja ou luxúria descontroladas. Vemos que os Sith Lords até conseguiram conquistar o Império inteiro manipulando outros através desta força da razão. Foi o que aconteceu ao Império no Star Wars. E tem acontecido em todas as sociedades humanas. A única forma de termos o "Império Contra-Atacar" é dominar as paixões através da razão através de raciocínios certos e pensamentos prudentes. Por isso, ser treinados na força é simplesmente usar o intelecto para habituar a virtude dentro de nós mesmos e na sociedade.
O lado negro da força é como o lado negro da razão humana. A razão é boa, mas pode ser distorcida e abusada para o mal - sempre através da corrupção das paixões/emoções.

Reavaliando a Força como uma analogia Cristã no Star Wars

Alguém podia dizer, "Sim, mas o Yoda consegue mover rochas com a Força e o Luke consegue fazer o pino com a cabeça através da Força. O que é que isso tem a ver com a inteligência racional?"
Eu responto, "Certos vós estais. Siiiiim."
Mas há mais que se lhe diga. Nós humanos usámos as nossas mentes para atingir todo o tipo de coisas impossíveis como voar em aviões, andar na Lua, dividir átomos e explorar o fundo dos oceanos.
As guerras, milagres científicos, curas - tudo isto é obtido através da força da recta razão.
A lição é que é a inteligência bem usada que faz grandes coisas. No Star Wars, vemos que a Força é o poder usado com rectidão para tornar uma sociedade civilizada numa sociedade civilizada. Platão, Aristóteles, Cícero e Aquino de certeza que iam aplaudir a visão que o George Lucas deu da "Força" como o único poder para ordenar a sociedade - porque todos estes filósofos perceberam que era a verdadeira razão que dava aos humanos a lei, a ordem e a civilização. Mesmo a lei natural requer a razão para se perceber.
Star Wars na verdade é uma visão política bastante certa de como a inteligência humana pode ser contrariada para chegar a uma sociedade maléfica. Os políticos maus estão sempre a quebrar a força da sua inteligência. Quando os homens recorrem ao "lado negro" temos coisas terríveis a acontecer, como isto:
Portanto, da próxima vez que alguém, depois da Missa, disser "Sim, eu gostava imenso do Star Wars, mas não deixo os meus filhos verem-no. É tão contrário à Bíblia," revejam os vossos conhecimentos filosóficos e mãos à obra. Lembrem-se: a Força não é igual a Deus. A força equipara-se à razão humana.
E lembrem-se, da próxima vez que se enfurecerem como um macaco e começarem a viver de acordo com as vossas paixões, estão a tornar-se cada vez mais como o Darth Vader. Não façam isso! Podem não ter uma conversão no leito da morte onde alguém vos vai tirar o capacete e dar uma última hipótese.
Taylor Marshall


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5 comentários:

Diogo Machado disse...

Post muito interessante.

Concordo que a razão seja a lente certa para analisar o Star Wars. Por isso mesmo antes de comparar a Força a qualquer outra coisa cristã é preciso saber um pouco mais sobre a sua natureza e podiamos estar umas boas horas a falar disso.

Factos que podem elucidar a reflexão: (usando apenas a história),

- a Força tem uma natureza maniqueia (Clone Wars: Temporada 3, Episódio 15). Há três personagens de natureza definida: um bom, um mau e um neutro.

- a Força é controlável por quem tem mais midichlorians (Ameaça Fantasma) ou se apropria de um cristal de Força (pós-Guerra dos Clones).

- Nenhum Sith nasce mau, todos são corrompidos com a promessa de poder, conhecimento e vida eterna (Vingança dos Sith) mas a corrupção não é definitiva (Regresso do Jedi). Tais poderes são, no entanto, possiveis de alcançar através da meditação.

- Anakin, o messias da história não é um super-heroi nem um super-vilão. Odeia que lhe matou a mãe (Ataque dos Clones)

- A prática de obras virtuosas/defeitos relaciona-se com o lado luz/negro da Força (um pouco por toda a saga).

Acredito que o Star Wars se pareça mais com a filosofia bushido dos antigos samurais do que com a cristã, em todos os aspectos que conheço. Por incluir muito da moral natural, nas virtudes, etc, pode "cristianizar-se" por se humanizar muito também, pois «tudo o que é verdadeiramente humano, é cristão» (papa Paulo VI)

Unknown disse...

Achei genial! Gostei também do comentário do Diogo Machado.
Não tenho contribuições filosóficas a fazer, mas quero apenas registrar que gostei muito deste blog. Já o adicionei aos meus favoritos.
Obrigada por tudo, e fique com Deus.

coisasdamentedocarlos disse...

Gostei da correlação filosófica que vc faz, mas na verdade, não existe relação nenhuma e nem razão para cristãos temerem Star Wars, Harry Potter e outros filmes de fantasia. Porque? Porque são fantasia. Não são reais. Podem ser baseados em algo que pertença ao mundo real mas não são reais. E não ha uma menção sequer contra ou a favor do cristianismo, porque não ha religiões no mundo de Star Wars. Ha seitas e ordens misticas (coisa comum em mundo de fantasia), mas não ha nada que lembre o cristianismo. Historias que tem o intuito de passar uma mensagem contrária, fazendo comparações, ai sim, poderia ser algo a ser criticado por um cristão. Temer fantasia e coloca-la como um "adversário" divino é o mesmo que diminuir Deus. Os ateus, por exemplo, tratam Deus como fantasia. Não deveríamos fazer o mesmo.

Ivan disse...

Dom Gabrielle Amorth já avisou que o harry potter ensina bruxaria de verdade (satanismo).
E a Disney pelo que li, promove a nova era.

Unknown disse...

A política tem sido referida como uma religião profana ou uma religião sem Deus. Neste aspecto, o que é bom e o que é mau (lado negro) passam a ser duas facções políticas que se digladiam. As referências aos cavaleiros medievais ou às ordens religiosas militares ou ainda aos cruzados são nítidas nos cavaleiros Jedi, também, não nítidas as inspirações nazistas nos líderes do Império. O tema de Darth Vader nos remete a uma obra wagneriana que era apreciada pelos nazistas. No último filme há uma cena que parece reproduzir um daqueles discursos gigantescos de Hitler. Assim vejo Star Wars mais política que religiosa.