domingo, 15 de dezembro de 2013

Os gnósticos: Novas heresias velhas - Pe.Gonçalo Portocarrero

A história não é, certamente, um processo cíclico, nem dialéctico, mas muitas das antigas heresias subsistem na actualidade, em edições revistas e actualizadas. É o caso, entre outros, do novo gnosticismo.

Segundo o Senhor D. Manuel Clemente, a gnose dos primeiros séculos «apresentava-se como um conhecimento intelectual, um sistema completo, sobre Deus e a felicidade do homem. Conhecimento, e não adesão existencial ou de fé.» O gnosticismo moderno pretende ser uma nova síntese entre a fé cristã, as espiritualidades orientais e o moderno conhecimento científico, com as suas imensas possibilidades tecnológicas.

É recorrente, a este propósito, o empenho dos novos gnósticos em actualizar, ou modernizar, a Igreja, não apenas pela reforma dos seus axiomas teológicos, que insistem em assumir como teses meramente humanas, mas também pela substituição da sua missão salvífica que, segundo afirmam, deu pasto a intoleráveis atitudes proselitistas, pela prática de uma beneficente acção humanitária. Assim sendo, os dogmas do inferno ou da infalibilidade papal, entre outros, deveriam ser reduzidos à sua condição histórica de obsoletos princípios doutrinais; os milagres e os exorcismos deveriam ser tidos como serôdias manifestações da antiga ignorância científica; e até a supremacia de Cristo deveria evoluir para a sua ecuménica equiparação a Maomé, Buda, Krishna ou qualquer outro grande líder religioso.

Os novos gnósticos são os defensores de uma Igreja tão abrangente e inclusiva que, a bem dizer, nada excluiria. Partidários do sacerdócio feminino e da interrupção voluntária da gravidez, defensores da ideologia de género e da fecundação artificial, apologistas das uniões de facto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo deveriam, segundo eles, ser acolhidos pela instituição eclesial, sob pena de que a mesma, fossilizada em velhos clichés anacrónicos, se divorciar irreparavelmente da modernidade.

«Na moral, o gnosticismo» – segundo ainda o nosso Patriarca – «tanto derivava para um ascetismo extremo […], como para uma total amoralidade». De facto, são dois extremos muito presentes na sociedade hodierna, que se escandaliza com o tabagismo, ou as touradas, mas consente a destruição violenta de milhões de embriões humanos e tolera, com indiferença, a droga e a pobreza extrema de milhões de indigentes.

Na perspectiva deste novo gnosticismo, a moral católica não teria outro princípio que não fosse o da total autonomia das consciências, porque uma ética categorial objectiva mais não seria, na sua lógica, do que um novo farisaísmo. Como máxima da sua gnose pseudo-cristã, gostam de repetir, sem contudo o compreender, o princípio agostiniano: «ama e faz o que quiseres»!

O relativismo gnóstico está na moda, também em certos ambientes eclesiais, não obstante a sua manifesta heterodoxia. É certo que Jesus abraçou os publicanos e os pecadores, mas nunca consentiu nos seus desvarios. É verdade que se opôs aos rigorismos farisaicos, mas sem revogar a Lei, nem atenuar o seu radicalismo.

A Igreja é, pela sua própria natureza, universal e, portanto, está receptiva a todos os pecadores, na comunhão da fé e da moral cristãs. Ser católico não é apenas concordar com alguns aspectos da doutrina da Igreja, nem um vago sentimento de amor ao Mestre, mas uma efectiva «adesão existencial» a Jesus de Nazaré. Ao jeito de Paulo, que pode dizer de si mesmo: «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20) in Voz da Verdade


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