terça-feira, 6 de setembro de 2022

A liberdade de um monge trapista

Também eu, quando estava no mundo, corria muitas vezes pelas estradas de Espanha, encantado por ver o velocímetro do meu carro marcar 90 km à hora! Que disparate! Quando me apercebi de que não tinha mais horizontes, sofri a decepção típica daquele que tem a liberdade deste mundo, pois a terra é pequena e depressa lhe damos a volta. O homem está rodeado de horizontes pequenos e limitados. 

Para quem tem a alma sedenta de horizontes infinitos, os da terra não bastam: abafam-no, não há mundo que lhe chegue e só encontra o que procura na grandeza e imensidão de Deus. Homens livres que percorreis o planeta, não tenho inveja da vossa vida neste mundo; fechado num convento e aos pés do crucifixo, tenho uma liberdade infinita, tenho um céu, tenho Deus. Que sorte tão grande ter um coração apaixonado por Ele!

Pobre irmão Rafael! Continua a aguardar, continua a esperar com essa doce serenidade que a esperança certa proporciona; permanece imóvel, pregado, prisioneiro do teu Deus, ao pé do Seu tabernáculo. Escuta ao longe o ruído que fazem os homens que desfrutam dos breves dias da sua liberdade no mundo; escuta ao longe as suas vozes, os seus risos, os seus choros, as suas guerras. Escuta e medita um momento; medita sobre um Deus infinito, o Deus que fez o céu e a terra e os homens, o Senhor absoluto dos céus e da terra, dos rios e dos mares; Aquele que, num instante, só por assim o querer, fez sair do nada tudo aquilo que existe.

Medita por momentos na vida de Cristo e verás que não há nela, nem liberdades, nem barulho, nem burburinho de vozes; verás o Filho de Deus submetido ao homem; verás Jesus obediente, submisso e numa paz serena, tendo como única regra de vida fazer a vontade de Seu Pai. E, finalmente, contempla Cristo pregado na cruz. De que serve então falar de liberdades?
 

São Rafael Arnaiz Baron in 'Escritos espirituais' (15/12/1936)


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1 comentário:

Anónimo disse...

Feliz deste monge que viveu numa época em que "procurar a resposta para as suas ânsias de Infinito"ainda passava por encontrar Deus. Hoje, riinfelizmente, de certeza seria muito mais complicado, dada a ausência de espiritualidade...
Quantos se perdem, porque num mundo laico e materialista como o atual, acreditar em algo tão
Sublime torna-se, no mínimo ridículo!
"Para aqueles que têm fome fe Infinito, a única resposta é Cristo"--S. João PAULO II