segunda-feira, 22 de abril de 2013

A democracia na Igreja

Na altura do conclave, surgiram, aqui e acolá, pleitos por “maior democracia” na Igreja. Havia os que afirmavam que o modelo actual, “monárquico absolutista”, deve acabar. É necessária, diziam, uma descentralização do poder romano. Quando leio ou ouço esses argumentos, pergunto-me: qual é a ideia que tais pessoas nutrem a respeito da Igreja? A Igreja católica, composta de clérigos (diáconos, padres e bispos) e de leigos (cristãos comuns), é uma sociedade totalmente alicerçada na pessoa do seu divino fundador, Jesus Cristo. 

A mensagem católica é imutável, porque Deus e a sua doutrina são imutáveis. O Papa, que faz as vezes de Jesus (vigário de Cristo), apenas comunica o Evangelho. Todo o manancial de encíclicas, constituições apostólicas, decretos etc., emanados do Sumo Pontífice, constituem apenas uma explicitação ou actualização da Boa-Nova anunciada por Jesus. Tanto quanto possível, traz-se Jesus à contemporaneidade, por intermédio do magistério papal. A Igreja, ao longo destes dois mil anos de História, não inventou doutrinas, apenas cumpre a excelsa missão  de propor à humanidade os valores morais do cristianismo, vindos do Fundador. Além disso, a Igreja administra os sete sacramentos, todos instituídos por Jesus; nenhum pela Igreja. 

Será que os indigitados “democratas” acham possivel dividir a potestade do Sucessor de Pedro com alguns prelados, ou, ainda, que os bispos reunidos em concílio ecuménico, ou mesmo isoladamente, deliberem sem o Papa, no que respeita à fé e aos costumes? Ou, então, hipótese mais esdrúxula: que, “democraticamente”, se discutam dogmas “ultrapassados”. Tudo isto é um absurdo! O modelo jurídico da Igreja é obra de Jesus Cristo. Aliás, não existe nada mais bíblico que a hierarquia eclesiástica. Basta compararmos o relacionamento hodierno entre o Papa e os bispos com as interações que havia entre o apóstolo Pedro e os outros apóstolos, narradas nas escrituras santas. 

Depois da morte e ressurreição de Jesus, nada de importante se fazia sem o beneplácito de Pedro, que era, indiscutivelmente, o chefe do grupo. Nos Estados é extremamente salutar que o poder advenha do povo (democracia). Desta feita, a Igreja, através da sua doutrina social, é a instituição do planeta que mais defendeu e defende o regime democrático para as sociedades políticas. No seio da Igreja, também pode e deve medrar a democracia, quando, por exemplo, os católicos de uma diocese elegem as prioridades pastorais (saúde, moradia, emprego). 

Na Igreja, determinados assuntos não são objecto do crivo “democrático”, mas do crivo divino. Nesse sentido, por exemplo, o parecer negativo sobre a homossexualidade apoia-se directamente nos ensinamentos de Jesus, bem como na sagrada Tradição e na Bíblia. O mesmo ocorre com o aborto, a indissolubilidade do casamento ou com o uso de pílulas anticoncepcionais, ou, ainda, com a ordenação de mulheres. 

A Igreja, precipuamente, por meio do novo Papa, continuará a vociferar um non possumus diante de petições desse jaez. Não é tanto não querer; é não poder alterar o “depósito da fé”, as cláusulas pétreas do catolicismo. Questões distintas são o alargamento do diálogo, a disponibilidade para parlamentar com não católicos e agnósticos. É mister, igualmente, descobrir novas formas de proclamar o Evangelho. Pode-se, igualmente, perscrutar com maior profundidade certas situações na Igreja, como a dos católicos em segunda união nupcial. Estes pontos, sim, têm de evoluir! Não é a doutrina da Igreja católica que deve mudar! É a humanidade que necessita se converter a Cristo, a fim de que haja vida abundante para todos (Jo 10,10). Edson Sampel in Zenit


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