quinta-feira, 15 de março de 2012

Saudosistas do futuro que se anuncia - D. Henrique Soares da Costa

Já escutei algumas vezes os incomodados com os jovens que desejam a grande Tradição da Igreja e rejeitam o tanto de secularização e desmantelo em que nos encontramos, particularmente no tocante à liturgia, à doutrina e à moral. Irritados, rotulam esses jovens como alienados, clericais, reaccionários, autoritários… Ridicularizando, esses incomodados acusam esses jovens de terem saudade do que não viveram…

Pois eu digo: eles estão cansados de tanta secularização, de tanta ideologia liberal, de tanto relativismo, de tanta falta de piedade… Eles não são saudosistas patológicos: têm, sim, uma saudável nostalgia daquilo que está no seu DNA: a verdadeira fé católica, o verdadeiro espírito católico, as verdadeiras atitudes de um católico! Já Paulo VI constatava com imensa tristeza que um tipo de mentalidade não católica havia entrado na Igreja católica após o Vaticano II… Somente quem perdeu o sentido da Tradição e desconheça o que seja o sensus fidei (= o sentido, o instinto da fé) ou o sensus fidelium (= o sentido de fé que os fieis possuem) pode apelar para um argumento tão raso quanto este, de chamar saudosistas do que não viveram aos jovens que trazem no seu DNA espiritual dois mil anos de vida cristã!

É bom que estejamos bem atentos: se tantos jovens – padres e seminaristas ou leigos – desejam mais rectidão, coerência doutrinal, disciplina e seriedade nas coisas da Igreja é porque a ideologia do tal do "espírito do Concílio" (que pouco ou nada tem a ver com a letra do Concílio!) fracassou e está a fazer mal à Igreja: ao invés de uma primavera, colocou-nos num triste e frio inverno….

Mas, o Concílio Vaticano II será ainda uma primavera na Igreja, quando, levadas pelo vento, as folhas secas do “espírito do Concílio” caírem todas e despontarem, como já despontam, os brotos de uma vivência do Vaticano II no sulco da grande Tradição da Igreja, como o Santo Padre Bento XVI – e todos os Papa pós-conciliares – tanto deseja! Esses jovens incómodos e esses movimentos críticos da bagunça aí presente são sinais efectivos desse despertar! O DNA católico está vivo; nunca morrerá!


blogger

9 comentários:

Anónimo disse...

e o que dizer dos inúmeros católicos que vivem sem este autêntico dna verdadeiro?...
Todo este discurso parece-me um autêntico farisaísmo... e entristece.

João Silveira disse...

anónimo, alegre-se! um cristão triste é um triste cristão

Anónimo disse...

Presumo que diria isso a Cristo quando ele viu Jerusálem e chorou...

João Silveira disse...

A comparação não faz sentido, porque o José Rodrigues dos Santos já provou que Cristo não era cristão

Anónimo disse...

O que não faz sentido são as suas lenga-lengas...

Eu não fiz uma comparação. Usei a ironia para evidenciar o distanciamento que o verdadeiro catolicismo do Cardeal está (ou pode estar) do próprio Cristo.
E já agora, é (novamente) triste a referência ao José Rodrigues dos Santos (JRS). Sabia que para a Igreja (ou a sua doutrina se preferir) o JRS está bem equivocado? Não? Para JRS, ser cristão é pertencer a uma religião. Ele diz que Jesus era judeu, e sim, está correcto. Mas Jesus também era o Cristo, ou seja, o ungido. Se nós, de alguma forma, somos cristãos é porque participamos da unção de Cristo. Assim como Jesus era cristão no sentido de ser o Ungido, nós somos cristãos porque somos baptizados e crismados com Cristo, por Cristo e em Cristo. Ou pensa que o cristão é aquele que só acredita em Cristo? Eu acredito na Madre Teresa, mas não sou Teresiano… compreende? Os cristãos (e até pode pôr aqui católicos e não católicos) são cristãos porque são baptizados no mesmo Espírito Santo (Jo 17,1).
Agora, o que Jesus não era, e aqui sim, um não era muito certo, era um "católico verdadeiro" com aquele "dna" todo que é dito no texto que indica... E não era isso porque, aliás, Ele é muito mais que isso…

Posto isto, não percebo porque não respondeu à pergunta que lhe tinha feito. Talvez queira desconversar, mas já agora, vamos ao que interessa.

Não informa onde foi buscar o texto. Seria bom conhecê-lo por inteiro.
Mas é curioso que neste excerto, de tanto que o cardeal diga, não aponte um único Padre da Igreja, não aponte uma única passagem bíblica, nem faça uma única referência a Jesus...
Acha que estes três aspectos são desnecessários?
Por outro lado, o conceito de "espírito do concílio" aqui conotado é tão partidáriamente ideológico como a alusão ideológica feita à Tradição...
Antes da fé (ou do sensus fidelium) junte-lhe a Palavra, e depois, junte esta à Tradição, e assim já se faz justiça ao espírito e à letra do Concílio... ou pensa que não?

João Silveira disse...

Que interessante, afinal o anónimo é teólogo, até fala línguas.

Como não quero que lhe falte nada fica aqui a fonte do texto, que foi copiado na sua totalidade, e não apenas uma parte: http://costa_hs.blog.uol.com.br/arch2010-08-22_2010-08-28.html

Esperava que percebesse que estava a brincar quando referi o JRS, mas deixa estar, fica para a próxima.

Quando se identificar poderei responder às suas perguntas, até lá não estamos ao mesmo nível.

Pax et Bonum

Anónimo disse...

Não sou interessante, nem sou teólogo. Desde há bastante tempo que me interesso muito por teologia, o que é diferente.

Agradeço-lhe a origem do texto. Noutros textos do cardeal pude constatar que ele escreve com boa fundamentação.
Mesmo assim, este texto mantém uma marca panfletária que não lhe fica bem.

Não gosto de me identificar porque nunca se sabe quem vem a estes sítios e a minha profissão não me dá essa possibilidade.
Se acha que não estamos ao mesmo nível, é pena, porque até penso que estamos. Ambos procuramos viver como Cristo viveu. Se calhar com momentos de crescimento diferentes.
Já fui militante católico. Hoje tento apenas ser um bom católico.

Para lhe dizer a verdade, a refutação sobre o que José Rodrigues dos Santos para mim foi óbvia. Nunca li uma crítica ou um livro dele. Só de olhar para a capa confundo-o com os romances cor-de-rosa americanos. Vê-se que é só um bom meio de subsistência para um jornalista como ele.

Se mesmo assim, ainda não quer responder às perguntas, então, passe e bem.

Anónimo disse...

Pronto, está bem.
Como não responde, eu então respondo abrindo o jogo em certa medida. Por isso, vamos supor que estudei teologia… Mas não sou teólogo, pelo menos não me considero como tal, e vejo que o João tem uma boa formação, não só pelo blog, mas sobretudo pela argumentação que utiliza quando comenta na Tribo de Jacob, por isso, penso estarmos ao mesmo nível. E o João até nem está sozinho – vi hoje que este blog é de um grupo – e lamento se causo desconforto, mas o texto era tão incisivo que não pude não comentar o que comentei.
Com tais textos, tenho sempre a sensação que se criam divisões no interior da Igreja. O fenómeno do Concílio Vaticano II é, neste momento atual, um bom exemplo disso.
Nunca gostei de rótulos. E há muito disso infelizmente.
Creio que há sensibilidades diferentes da mesma vivência de fé. Não falo unicamente das culturas ou educações que cada um recebeu do seu espaço geográfico e histórico específico. Falo, isso sim, da forma como fomos educados na fé, da maneira como fomos estabelecendo e crescendo com exemplos de fé - alguns admiram mais um santo ou outro porque é mais querido à sua sensibilidade.
Daí a primeira pergunta que lhe coloquei… A pergunta mais indicada, talvez, seria colocada a cada um de nós: como posso saber se tenho o verdadeiro dna?

Por outro lado, conheço um pouco do Concílio Vaticano II para pensar que no seu século foi um momento importante para a Igreja, e ainda há aspectos que precisam de ser esclarecidos como Bento XVI tem vindo a fazer. É que o problema nunca foi tanto o Concílio, mas a sua recepção.
O Espírito do Concílio não o considero algo especial. Há uma certa noção equivocada sobre este espírito que pode suscitar uma expectativa exagerada ou um receio, também ele, exagerado.

Pax

P.

João Silveira disse...

Caro P. (ex-anónimo),

Peço desculpa pelos cuidados que usei na abordagem, mas sabe que anónimos há muitos, e nem sempre são bem-intencionados. Quando disse que não estavamos ao mesmo nível, não era para dizer que eu sei mais, mas porque este é o meu nome verdadeiro, para o bem e para o mal, e quando discuto com um anónimo, especialmente em assuntos sérios, estou em desvantagem.

Este DNA parece-me muito simplesmente o amor à verdade. Amor esse que tem sido vivido pela Igreja nos últimos dois mil anos, com uma compreensão progressiva da Revelação, do que Deus nos disse em Jesus. O que muitos fizeram depois do concílio (e ainda hoje) foi querer deitar fora 1930 anos de Igreja, e passar directamente de Jesus para o “espírito do concílio”, como se a Igreja começasse naquela altura. Não, a Igreja tem este longo percurso e não podemos apagar a memória do que aprendemos. Parecem os jovens que tantas vezes desprezam os costumes dos antigos, como se não tivessem razões fortes para acontecerem, como se não tivessem sido criadas por quem conhece bem o Homem.

O Concílio foi bom, isso é claro no texto. A maneira como muitas pessoas o tentaram interpretar é que é errada, porque nega o passado da Igreja. Essas pessoas falam do que não existe, quando confrontadas com os textos do Vaticano II ficam sem resposta, porque na realidade não sabem o que diz. Esse passado, o tal DNA está presente em muitos jovens hoje em dia, que não dão crédito a essa geração frustrada que quis transformar a Igreja Católica em protestante. Por isso concordo completamente com o que disse.

Pax et Bonum